por Nelson Lott de Moraes Costa
Caro Paulo Henrique Amorim,O Marechal Lott é personagem de ficção, não existiu na vida real assim como Trotsky não existiu na URSS de Stalin.
O Marechal Lott foi primeiro aluno em tudo que cursou: Colégio Militar, Escola Militar, ESAO, ESG, curso de Estado Maior na França, etc, etc. Foi também quem regulamentou a profissão dos militares subalternos (cabos, sargentos e subtenentes), organizou as tropas da FEB, etc. Ministro da Guerra por seis anos e da Aeronáutica por breve período, posteriormente. Isso no âmbito exclusivamente militar.
Apesar desse histórico militar brilhante, não vamos encontrar referências a ele no meio castrense. Não é nome de quartel, de unidade, de pavilhão, nem patrono de turma da AMAN ou mesmo da ESA (Escola de Sargentos das Armas) implementada por ele.
Os militares dos tempos pré-ditadura tinham uma formação de brasilidade. Mesmo os gorilas golpistas tinham uma visão de Brasil, de nacionalidade, além de valores éticos e morais no trato da coisa pública.
O Marechal Lott brigava com os netos que deixávamos as luzes acesas na residência oficial e a "viúva" era quem pagava a conta. Todas as suas despesas domésticas - na residência oficial - eram bancadas pelo soldo dele. Nunca um de nós andou em veículo oficial e um genro dele, oficial do Exército, por sua ordem teve uma passagem aérea num vôo civil pago pelo Exército trocada por uma carona num velho C47 da FAB que levou 9 dias para cobrir o trajeto que o avião de carreira fazia em 12 horas. Economizou para a "viúva" sacrificando seu familiar. O meu pai, major, passou mal no quartel e morreu ao chegar em casa. Pelas normas, teria direito a duas promoções, pois morrera em serviço.
Além disso tinha já sido assinada a sua promoção a tenente coronel. O Marechal Lott informou à sua filha, minha mãe, que promoção assinada e não publicada em Diário Oficial não tinha valor e que o genro morrera "no" serviço e não "em" serviço. Assim, a viúva e seus quatro filhos receberiam pensão do posto superior imediato, tenente coronel, e não três postos acima como mereceria de acordo com a lei, a tradição e a benevolência.
A formação militar deixou muito a desejar, soldo e vantagens tornaram-se mais importantes do que o serviço, do que a nação.
Bolsonaro criou-se defendendo salários das forças armadas e não os tradicionais valores militares.
Vende-se hoje a Amazônia por trinta dinheiros, assim como 57 outros órgãos ou empresas nacionais na bacia das almas. No ritmo em que vamos, esperemos que não chegue o dia do Panteão de Caxias ser alugado para uma franquia do McDonald's para pagarmos dívidas ou apoios políticos.
Portanto, PHA, o Marechal Lott, ao contrário de Itabirito, não é um retrato na parede de um quartel, é um vazio na alma militar.
Grande abraço.
Nelson Lott
2016 tem pouco de 1964, mas muito de 1955. (Em 1955) o golpe não deu certo porque havia Lott, que deu um conta-ataque preventivo, colocou os tanques nas ruas e prendeu os golpistas. PHA
Título original: A quem interessa esquecer o Mal Lott? , publicado no site Conversa Afiada (29/08/2017)
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