13 março, 2020

Indo ao restaurante


Olá, sou uma mulher em uma esfera azul e verde que tem montes e montanhas de montanhas por toda parte. Algumas das montanhas da minha esfera cósmica escoam densos jatos de fogo líquido que descem e descem e se transformam em destinos de férias depois de alguns milhares de anos. [...]
por Jenny Slate
Hoje à noite vou ao restaurante, onde comerei um pássaro morto e queimado e beberei uvas roxas velhas liquefeitas, e também engolirei água limpa que costumava ter insetos, cocô e veneno, mas que foi limpa para que não me faça mal. Estou tão empolgada com o pensamento de consumir o pássaro queimado e a gosma de uva no restaurante que ponho tinta cor de pele em todo o rosto e aplico pigmento vermelho pastoso nos lábios. Também ponho grânulos de pêssego nas bochechas e uso um lápis para desenhar uma linha ao redor dos meus olhos, para que as pessoas saibam onde estão meus olhos.
Em seguida, pego um pequeno pincel e giro tinta preta sobre cada pestana, depois aqueço uma vara de metal e enrolo meus cabelos em volta dela, para que meu rosto esteja cercado por espirais. Enfio cada um dos meus seios em uma sacola de pano e, em seguida, prendo o par de sacolas contra meu torso com tiras, acho que para impedir que as mamas flutuem além das baforadas brancas e no espaço sideral.
Essas são tarefas importantes a serem realizadas se você quiser sair de casa e ir ao restaurante e não precisar ficar em casa e ficar sozinho para sempre, o que, na Terra, é ruim.
Cubro meu corpo com um pedaço de tecido que foi cortado e costurado de uma certa forma, de modo a lembrar aos outros que tenho uma bunda e uma vagina, mas sem mostrar a bunda e a vagina reais que tenho.
Eu sou uma mulher aqui nesta bola antiga que gira junto com uma coleção de outras bolas em torno de uma bola maior composta de luz e gases que são gases da ciência, não peidos. Não seja imaturo.
No restaurante, pago com o dinheiro que ganho por fingir ser outra mulher. Recebo esse dinheiro para poder comprar toda a pintura facial e bolsas de que preciso, para poder ir ao restaurante e comer o pássaro morto queimado e saborear o gloop de uva roxa que às vezes me faz cair ou vomitar por todo o lado. este globo. Repito este ciclo para que eu possa ir a lugares ainda mais nessa esfera, pois ela gira através da escuridão eterna e do espaço infinito. ♦

Going to the Restaurant, The New Yorker
O artigo (completo) apareceu na edição impressa de 23 de setembro de 2019, com o título "Restaurante".
Jenny Slate é atriz e comediante.

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