13 outubro, 2018

O monge que ora

Em 1562, Don Carlos, filho de Filipe II e herdeiro do trono da Espanha, estava morrendo. Um mês atrás, ele havia caído de uma escada, e todos os tratamentos médicos não conseguiam curá-lo. Na esperança de um milagre, seu pai rezou e autorizou que o corpo mumificado de um monge do século XV fosse trazido para ser colocado na cama, ao lado do filho.
Em poucos dias, o filho se recuperou de uma maneira considerada milagrosa. E, ao despertar do coma, contou que teve um sonho em que vira um monge orando por ele.
Na verdade, o corpus delicti do tal monge desenterrado esteve diretamente em seu leito, na fervorosa esperança de que ocorresse um milagre. Há inclusive uma litografia espanhola mostrando este evento aparentemente horripilante.
Após a extraordinária e milagrosa recuperação do filho, Filipe II encarregou o relojoeiro real Juanelo Turriano de criar um autômato representando o piedoso monge.
O incrível dispositivo de corda andava em um quadrado, balançando a cabeça enquanto a boca se movia em oração silenciosa, às vezes batendo no peito e beijando a cruz e o rosário. Na história da tecnologia do relógio europeu, o monge que ora é um exemplo inicial e muito raro de um autômato cujo mecanismo está totalmente contido e oculto em seu corpo. Sua presença misteriosa separa-a imediatamente dos autômatos posteriores: não é uma figura graciosa, não é um brinquedo, embora ainda desperte a curiosidade de um espectador do século XXI.
Praying Monk está atualmente no Museu Nacional de História Americana, da Smithsonian Institution, em Washington, DC, e ainda funciona.

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