Veja um caso em que uma vereadora exerce o mandato com um só voto, o dela própria.
Aqui a frase "Eu me elegi vereadora " pode ser tomada ao pé da letra. É um dos raros casos em que a democracia representativa é real: a eleita representa com exatidão o pensamento da eleitora. A autoridade pode jactar-se de que não tem "rabo preso" com ninguém.
O Brasil não é só um país, é uma grande anedota de português.
Abraços,
Nelson Cunha
Vereadora que recebeu apenas um voto é empossada no Piauí
Com apenas um voto, o dela mesma, uma professora aposentada de 79 anos tomou posse na Câmara Municipal de Coivaras (88 km de Teresina), cidade de pouco mais de 3.800 habitantes.
Constância Melo de Carvalho (PMDB) substituiu Raimunda Costa Santos (PSDB), cassada sob acusação de infidelidade partidária.
Evangélica, ela diz que só assumiu o mandato porque "Deus quis".
"É como diz a palavra de Deus, nos provérbios de Salomão: 'O homem pode fazer os planos, mas a resposta vem do Senhor.'"
Segundo Constância, a performance ruim no pleito se deveu ao fato de ter desistido da campanha para cuidar do filho, que estava doente e morreu meses depois.
"O Neto, meu filho, era minha pedra forte. Ele queria que me candidatasse, mas eu não queria. Dizia para meus eleitores que meu nome tinha ficado lá, mas que não era mais candidata."
No dia da votação, Constância diz que resolveu votar em si própria para ajudar o partido.
"Pensei: 'Sabe de uma coisa? Vou votar em mim. Não vou ser besta'. Se eu votasse em mim, sustentaria o PMDB, o PSB e o PSDB, [partido] do meu prefeito."
O voto acabou lhe rendendo o posto de suplente da coligação.
Segundo o presidente da Câmara de Coivaras, Carlos Alberto Araújo (PSB), os outros suplentes não puderam assumir o cargo por terem trocado de partido com a proximidade das eleições.
Essa é a quarta vez que Constância assume a vaga na Câmara - a primeira foi em 1992, quando teve o segundo maior número de votos.
A posse ocorreu no dia 23 de abril. De lá para cá, só participou de uma reunião, afirma. Entre os projetos, está o de construir uma casa para idosos.
"Vou me comportar como simples vereadora que quer trabalhar pelo povo, mas não foi eleita pelo povo. Ainda assim, o povo é meu povo", diz, com discurso político afiado.
Natália Cancian, FOLHA.com
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