30 janeiro, 2011

Moto velha

Caro Dr. Nelson Cunha,
Leio sempre suas crônicas no jornal e gosto muito. Vejo que é uma pessoa vivida e experiente e por isso me atrevo a lhe pedir um conselho. Sou bem casada, tenho 56 anos, mas ainda trabalho muito.Um dia desses, saí para o serviço de manhã e minha moto, dessas antigas, parou de funcionar em pleno trânsito. Eu estava parada no sinal e fiquei até envergonhada da quantidade de buzinaços que recebi. Voltei para casa a pé e cheguei esgotada porque é só subida até chegar onde moro. Quando entrei em casa, meu marido estava transando na sala com a empregada recém contratada.Os dois estavam na maior sem-vergonhice no meu tapete persa que me custou uma fortuna. Não posso nem ver o tapete mais. A empregada é jovem e linda, não posso negar, mas nunca pensei que meu marido fosse capaz de uma coisa destas. Estou desesperada. É caso de separação? O que eu faço?
Marli Boaventura

Minha cara leitora Marli,
Numa situação dessas o melhor a fazer é retirar sua moto do meio da rua e encostá-la no meio-fio para averiguações. Veja se o problema é elétrico retirando o fio da vela, e o encostando na lataria enquanto dá partida com o pedal. Se sair faísca o problema é combustível. Olhe se tem gasolina no tanque e se tiver desconecte o filtro porque pode estar entupido. Retire a válvula do pistão e jogue um pouquinho de gasolina lá dentro. Tente dar a partida novamente. Se o motor ameaçar pegar, o carburador está entupido. Chame um mecânico porque ficaria difícil desmontar um carburador na rua. Pegue um táxi porque na sua idade fazer caminhadas forçadas é prejudicial ao coração. Ao chegar à casa, demita a empregada. Dê a ela o meu telefone porque estou procurando uma empregada destas. Meu telefone é : 31. 1337 1238. O caso é de separação: separe o tapete persa e mande entregá-lo aqui em casa. Vou tratar de escondê-lo na minha sala e você nunca mais vai precisar olhar pra ele.
Nelson Cunha

4 comentários:

Nelson Cunha disse...

Paulo,
A idéia central do texto - a pouca importância que o consultor dá a traição- é baseada numa piada que circula por aí. Fiz mais uma versão porque achei o humor finíssimo.
Nelson

Paulo Gurgel disse...

Mil perdões, Nelson.
O marido traidor também deveria perdoá-la pela traição.
Ou será que eu estou ouvindo muito Chico?

Nelson Cunha disse...

Esqueci de comentar a ilustração. Você achou um senhora motoqueira que é a cara da Marli. E que ela não me ouça.

Paulo Gurgel disse...

Usei a estória como retrato falado.