PRECISAMOS FALAR SOBRE O KEVIN, de Lionel Shriver
Por Fernando Gurgel Filho (*)
Assassinatos em série em escolas americanas são recorrentes. Explicações, idem. Mas o livro “Precisamos falar sobre o Kevin”, de Lionel Shriver, apenas expõe as dificuldades e perplexidades no seio de uma família onde o rumo parece ser ditado pelas ambições individuais. E onde o indivíduo parece ditar o rumo que não se sabe qual é.
O que fazer para castigar uma criança que não tem apego a nada? Se nada a atinge? Proíbi-la de ver televisão? Indiferente! De passear? Indiferente! De jogar? Indiferente! Ou proibi-la de sair com amigos que não tem?
O que fazer quando escondemos de um adolescente cenas de terror e de violência na televisão se, para este adolescente, tanto faz assistir uma cena de amor, de sexo, de assassinato, de culinária ou de um evento cultural?
Um dia ele terá alguma inclinação por algo? O que será?
Não creio que a autora deu alguma resposta, mas o choque de uma narrativa fria e crua nos faz sentir calafrios e procurar nossas próprias respostas ou, ao menos, obriga-nos a utilizar o pouco conhecimento que temos do assunto, bem como nossas melhores emoções, para tentar evitar que os nossos filhos tomem caminhos sem volta.
Apesar de ficção, a construção do personagem fez-se a partir das chacinas reais analisadas pela autora. Daí o pavor que o livro provoca, pois existe uma realidade retratada no cotidiano de qualquer família e que, sem motivo e sem culpados, simplesmente explode em um adolescente indecifrável. E cruel ao extremo.
(*) O autor publicou esta resenha originalmente em Sabor de literatura, blog de Gilmar Bossle.
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