22 fevereiro, 2023

O castor, por ocasião da Quaresma

Para grandes males, grandes remédios. Houve um tempo em que, durante a Quaresma, não se podia comer carne de castor na América. Era um problema. Mas a Igreja Católica não hesitou em fornecer uma solução rápida.
- Nada e vive na água?
- Sim.
- Bem, então não é carne, é peixe. Vá com Deus.
Na verdade, essa não é uma reprodução fiel das palavras que foram ditas. É mais uma dramatização, porém deve ter sido algo assim. Aconteceu no século XVII, em Quebec, Canadá, embora a resolução tenha se espalhado por toda a América e até acabou se tornando uma tradição nesta parte do mundo.
Sim, mais do que com o castor, também com o maior roedor do mundo: a capivara.
Estima-se que, do México ao Canadá, entre 40 e 600 milhões de castores viveram sua idade de ouro. No entanto, a chegada de colonos europeus desencadeou uma intensa motivação para caçá-los, com o objetivo de obter sua carne, suas peles e as secreções de suas glândulas anais. Esta substância , conhecida como castóreo, tem sido historicamente muito útil, inicialmente para fins curativos e depois como aditivo em perfumes e alimentos (notadamente para dar o sabor de baunilha na indústria alimentícia).
Infelizmente, essa matança reduziu marcadamente as populações de castores, levando-os à quase extinção. Atualmente, as estratégias de conservação aumentaram um pouco o número, mas apenas até 12 milhões.
A chegada de colonos europeus não só trouxe a caça de castores para a América. Também trouxe a religião católica. E muitos indígenas de diferentes partes do continente acabaram se convertendo, adotando novos costumes.
O problema é que alguns deles eram mais difíceis. Por exemplo, no período da Quaresma, quando comer carne era proibido, os paroquianos canadenses tiveram muita dificuldade ao não poder recorrer à carne requintada do castor. Tal foi a decepção, que o bispo de Quebec acabou consultando seus superiores se algo poderia ser feito a respeito.
E estes não hesitaram. Tendo uma cauda escamosa e passando parte de sua vida na água, decidiram então classificá-lo como um peixe.
Como resultado, os paroquianos católicos puderam continuar desfrutando dessa iguaria durante a Quaresma. E também da carne da capivara. Este é um animal conhecido por ser o maior roedor do mundo, típico da América do Sul.
Nesta parte do continente americano, portanto, foi a esse falso peixe que os fiéis passaram a recorrer para aplacar suas consciências.

Extraído de: https://hipertextual.com/2021/05/castor-cuaresma
Relacionada com: https://blogdopg.blogspot.com/2017/03/o-roedor-gigante-que-tem-gosto-de-peixe.html

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