Extraído de: Evolução e religião, por Sérgio Pena (*)
A resistência de alguns grupos religiosos à evolução é um problema que me deixa simultaneamente perplexo e entristecido. Como racionalista de carteirinha e cientista militante, tenho dificuldade em entender essa situação. Como pode um indivíduo pensante desprezar evidências empíricas gritantes e concretas para adotar em seu lugar um pensamento anticientífico, com base apenas em revelações e escrituras milenares de origem obscura que alegam ser de autoria divina?
O que considero necessário não é a ciência da evolução se modificar com o objetivo de se tornar palatável para algumas crenças religiosas. O importante é que as religiões adaptem suas doutrinas para lidar com a realidade da evolução, assim como tiveram de se adaptar à teoria heliocêntrica do Sistema Solar 500 anos atrás.
É absolutamente incontestável o fato da evolução. Não se trata de uma simples teoria da evolução. Dados paleontológicos, geológicos e fisiológicos já forneceram ampla evidência da origem única da vida na Terra e de sua evolução progressiva para formar as milhões de espécies de animais e plantas que aqui habitam. Mas a genômica comparada foi a cereja no topo do sorvete, o elemento que nos deu a prova final da verdade incontestável da evolução.
(*) Sérgio Pena (Belo Horizonte, 1947) é um médico geneticista brasileiro, ex-colunista da Ciência Hoje. Atualmente é Professor Titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG. com experiência na área de Genética, atuando principalmente em temas tais como diversidade genômica humana, formação e estrutura da população brasileira e aplicação de testes baseados na PCR para diagnóstico de doenças humanas. Também é Diretor do Laboratório de Genômica Clínica da Faculdade de Medicina da UFMG e Diretor Científico do GENE - Núcleo de Genética Médica.
A evolução da religião: 1 e 2
Um comentário:
Há dois livros do Michael Shermer que tentam elucidar o assunto: "Cérebro e Crença" e, o principal, "Porque as pessoas acreditam em coisas estranhas".
Segundo a sinopse deste último livro: "Para Shermer, as pessoas acreditam em coisas estranhas porque faz parte da natureza humana procurar padrões, conexões de eventos, mesmo onde na verdade não existe nada."
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