30 novembro, 2014

CPMI, variações linguísticas e peixes

por Fernando Gurgel Filho
À Comunidade Menos Pacificada Integralista - CPMI:
Hoje, ser chamado de "direita" é quase uma ofensa pessoal. Um xingamento.
Chama-se direita, aqui no Patropi, a essa mescla de ideologias que mistura saudades do feudalismo, das capitanias hereditárias, das senzalas e de ditaduras militares.
Chama-se direita, aqui no Patropi, a essa coisa amorfa, sem identidade e que é chamada de "direita" por falta de um rótulo adequado e que a diferencie dos que são rotulados de "esquerda".
Em outros lugares a "direita" já foi rotulada como fascista, nazista, integralista...
No século passado, até tentaram rotular de integralistas nossos dignos representantes da "direita". Naquelas priscas eras, talvez fosse até motivo de orgulho ser chamado de conservador, ultraconservador ou coisa do tipo...
Na Matriz, ainda são chamados de Republicanos ou Conservadores. Por incrível que pareça, o que mais se parece com a "esquerda" por lá é chamado de Democrata ou Liberal. No fundo, bem lá no fio**, dizem que a diferença real é praticamente zero.
Talvez estejamos caminhando para algo parecido.
Haja vista, ter muita gente que se sente envergonhada de ser rotulada de "direita" e acabe se autointitulando (essa *orra tem hífen?) de "esquerda", rótulo que hoje também não quer dizer muita coisa, mas que, pelo menos aqui no Patropi, pode ser orgulhosamente exibido como algo avançado, moderno, progressista, defensor das liberdades individuais e que luta por justiça social, maior nível de igualdade econômica e maior nível de bem estar para toda a sociedade.
Então, ao invés de ficar tentando jogar a pecha de comunistas, "petralhas", bolivarianos, cubanos... na "esquerda", o que já não cola mais, será que não está na hora de a "direita" pelo menos se definir
quanto a alguma ideologia que coloque seus defensores dentro de plataformas mais positivas para a sociedade?
Ao menos para identificar seu eleitorado com algo que lhes dê autoestima (essa *orra tem hífen?) e coragem para enfrentar novas eleições, ao invés de querer dar golpe por não conseguir se eleger.
Uma plataforma sugerida: abraçar a causa anticorrupção (essa *orra tem hífen?) junto com a Presidenta eleita. Como propõe o Ricardo Semler.
Porque não?
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Que o Brasil é um País estranho, tornou-se unanimidade à esquerda, à direita, ao nordeste, ao sudeste, a "cunrintianus" e a "framenguistas".
Dá boas laudas de textos para estudiosos de todas as áreas, matizes, religiões, ideologias etc. Seja para psicólogos, sociólogos, historiadores, urbanistas e, principalmente, para cômicos e cartunistas.
Não sei se estou enganado, mas os nossos doutos linguistas, gramáticos e afins estão deixando escapar uma grande oportunidade de capturar uma peça rara: o nascimento de uma variação linguística.
Agora, às diferenças sociais, culturais, regionais e históricas, vem se somar a variação linguística que depende da vertente política do emissor da palavra. Ou seja, depende da condição política.
Então, basta prestar atenção. Se o interlocutor não consegue pronunciar "Presidenta" de jeito nenhum, pode enfiar-lhe o rótulo de "direita" radical. Se, ao escrever, além de não conseguir escrever "Presidenta", com letra maiúscula e tudo, escreve "a presidente", está além da "direita" radical, quase no infinito do espectro político.
Por falta de outra definição, rotulo-os de "miolo de pote".
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"O que um peixe sabe sobre a água em que nada a vida inteira?"
Usei a frase acima para ilustrar o nível de conhecimento que certos setores da sociedade têm do ambiente que os rodeia. Não entendem.
O Belluzzo ilustra essa incompreensão, de uma forma bem clara, com este apólogo do escritor norte-americano David Foster Wallace:
"Dois coxinhas peixinhos estão nadando juntos e cruzam com um peixe mais velho, nadando em sentido contrário.
Ele os cumprimenta e diz:
– Bom dia, meninos. Como está a água?
Os dois peixinhos nadam mais um pouco, até que um deles olha para o outro e pergunta:
– Água? Que diabo é isso?"
Talvez agora entendam.
In: Luiz Gonzaga Belluzzo: A direita brasileira defende o darwinismo social, por Marilza de Melo Foucher, correspondente do Correio do Brasil, em Paris.

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