17 outubro, 2021

Que será, será

"The man who knew too much" (O homem que sabia demais)
Sinopse - O Dr. Ben McKenna (James Stewart) está de férias com sua esposa (Doris Day) e filho no Marrocos, quando um encontro casual com um estranho coloca sua viagem e suas vidas em um curso drasticamente diferente. O estranho, morto na frente da família no mercado, revela uma trama de assassinato aos americanos. O filho do casal é sequestrado para garantir que a trama seja mantida em segredo e, de repente, a mãe e o pai, sem ajuda da polícia, devem descobrir uma maneira de resgatar o filho.
Vídeo - Doris Day, neste filme de 1956, cantando "Que será, será", de Jay Livingston and Ray Evans.



Texto extraído de Que será, será... do crítico de cinema e literatura paraibano João Batista de Brito:
De origem obscura – provavelmente ainda medieval – a expressão QUE SERÁ, SERÁ, com a variante italiana CHE SARÀ, SARÀ, tem vários registros que datam, como disse, do Renascimento inglês. Na época, com valor de máxima, ou ditado, era usada em tom de fatalismo, como a dizer ´o mal que tiver de te acontecer, acontecerá´. No filme de Hitchcock esse tom pessimista foi aliviado.
Ora em espanhol, ora em italiano, eis alguns de seus registros renascentistas: a máxima está impressa na Igreja de São Nicolau, em Surrey, de construção medieval; está no túmulo de alguns nobres da época, e até na literatura está: confiram as páginas clássicas do "Doctor Faustus", de Christopher Marlowe, publicado em 1602.
Como foi parar no filme de Hitchcock?
Na verdade, já estava num filme anterior ao de Hitchcock, no caso, "A condessa descalça", de 1954, portanto, de dois anos antes. Você lembra, não é, nele Ava Gardner fazia uma moça comum que casava com um Conde meio efeminado (Rossano Brazzi). Pois, em uma murada da mansão do Conde estava, em língua italiana, gravada a nossa máxima: CHE SARÀ, SARÀ. Provavelmente os roteiristas do filme de Mankiewicz, ou o próprio Mankiewicz, conheciam a história que estamos contando aqui.
Quem não a conhecia era o músico que compôs a trilha sonora para Hitchcock. Jay Evans (sic), músico premiando, tomou contato com ela justamente dois anos atrás, ao ir a um cinema de Los Angeles assistir a "A condessa descalça". Vendo a máxima na murada do Conde, anotou-a em seu caderno, achando que aquilo daria um título de canção. Dito e feito, ao ser convidado pela Paramount pra fazer a canção que Doris Day cantaria, e que seria tão importante no desenlace do filme, não hesitou: compôs uma letra toda fundada no tema da máxima, apenas mudando o italiano do filme de Mankiewicz para o espanhol, para o que deu a seguinte justificativa: "Espanhol é uma língua muito mais falada que o italiano".
No Brasil, os espectadores acharam – eu inclusive – que Doris Day estivesse cantando em português, mas, enfim.

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