15 setembro, 2019

De fininho

Fernando Gurgel Filho
Aqui no Patropi, adotamos a expressão "sair à francesa" quando queremos sair de um evento sem longas despedidas. Normalmente, em eventos com muita gente conhecida — para não atrapalhar —, como em aniversários, batizados, casamentos etc.
Na realidade, segundo os entendidos, a expressão surgiu na França quando os franceses adotaram o hábito inglês de sair das festas sem se despedir de ninguém. Apesar de ficarem horrorizados com aquele costume inglês — mau costume, diziam —, sempre que queriam sair sem serem notados, diziam
eles lá que iam "sair à inglesa".
Mas o tempo passa e as expressões mudam quando um evento muito marcante acontece. Principalmente um evento traumático, acontecido com gente importante em cidade muito importante. Muito importante pra gente do lugar, claro. Foi o que aconteceu em uma bela cidade do interior aqui de Goiás, próxima ao Distrito Federal.
O Bio, nascido Severino em Pernambuco e ninguém sabe como foi parar lá naquela cidade, era um dos mais conhecidos frequentadores das casas das luzes vermelhas. Daquelas casas mais frequentadas pelos honrados pais de família da cidade.
👫 De repente, quase sumiu da boemia, dos bares e das casas das "primas". Saía de casa muito raramente. Tinha encontrado a mulher de sua vida. Assim, meio por acaso. Madrugava quando ia voltando pra casa e se deparou com uma bela morena descendo de um caminhão, com uma trouxa pesada nas mãos. Ofereceu ajuda. Papo vai, papo vem, a morena chamada Tereza disse que estava ali pra trabalhar e procurava um lugar onde ficar, mas acabou tomando umas saideiras com o Bio e aceitou o convite de dormir na casa dele. Nunca mais saiu dali e viveram felizes para sempre.
Até que um dia, como dizia o poeta, o "pra sempre sempre acaba" e Tereza simplesmente sumiu. Dizem as más línguas que fugiu, de madrugada, em um caminhão. Acabrunhado, Bio voltou a frequentar a boemia assiduamente e, claro, todos os amigos perguntavam o que tinha acontecido. E chegavam à pergunta fatal:
— E aí, cumpadre, cadê Tereza?
O Bio, os olhos cheios d'água, voz embargada, baixava a cabeça e sempre respondia:
— Tereza foi embora, não deixou nem um adeus!
Daí em diante, naquela próspera cidade goiana, quando alguém quer sair de uma festa sem se despedir, diz apenas:
— Olha, não repara, não. Vou sair igual Tereza.

Bônus: A beleza em Tereza
"Todo mundo se admira / da mancada que a Terezinha deu / que deu no pira / e ficou sem nada ter de seu. / Ela não quis levar fé / Na virada da maré." ~ Baden Powell e Paulo César Pinheiro

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