20 maio, 2013

Justiça na fronteira


Em 1881, um juiz federal no Território do Novo México, presidindo um tribunal temporário, condenou o assassino José Gonzales. Nós não sabemos os detalhes do crime de Gonzales, mas deve ter sido algo bem extraordinário para que a sentença fosse proferida nos seguintes termos:
"José Manuel Miguel Xavier Gonzales em poucas semanas será primavera. As neves do inverno fugirão, o gelo desaparecerá, e o ar se tornará suave e agradável. Em suma, José Manuel Miguel Xavier Gonzales, o milagre anual da mudança de estações vai prosseguir, mas você não vai estar aqui.
O riacho vai correr o seu curso gorgolejando para o mar, as flores tímidas do deserto serão anunciadas por seus brotos tenros e os vales gloriosos deste domínio imperial se encherão de rosas. Ainda assim, você não vai estar aqui para ver.
De cada topo de árvore os pássaros entoarão o seu canto de acasalamento, borboletas brincarão sob o sol, a abelha ocupada zunirá feliz enquanto exerce a sua vocação habitual, a brisa suave irá provocar as borlas das gramíneas selvagens, e toda a natureza, José Manuel Miguel Xavier Gonzales, será feliz, menos você.
Você não vai estar aqui para apreciar tudo isso, porque eu mandarei o xerife ou algum outro oficial deste país conduzi-lo a algum lugar remoto, a fim de o dependurar pelo pescoço num galho de algum carvalho robusto, e assim ser deixado até que esteja morto.
E, então, José Manuel Miguel Xavier Gonzales, eu ordenarei, ainda que tal ou tais funcionários afastem-se rapidamente de seu cadáver pendurado, que os abutres desçam dos céus sobre o seu corpo imundo, até que nada reste além dos ossos secos de um sangue-frio de pele acobreada, sedento de sangue, cortador de garganta, comedor de chili, pastor de ovelha e assassino filho de uma puta.

Fonte: Registros do Tribunal Distrital dos EUA, Sessões do Território do Novo México. Publicado por Cleopatra Mathis em Antaeus, no outono de 1976. Tradução livre de PGCS.

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