08 fevereiro, 2013

O português, essencialmente

"Language X is essentially language Y under conditions Z"
Em As explicações essencialistas John Cowan coleciona 1009 conceitos de como as línguas são definidas por pessoas de outras línguas. Dentre as 34 entradas que já existem na página para o português, eu selecionei as seguintes:
O português é, essencialmente, o espanhol ruim, resmungado.
- Eugene Holman
O português é, essencialmente, o espanhol falado através de dentaduras mal ajustadas.
- Roger Mills
O português é, essencialmente, a língua falada por galegos que decidiram ter um país próprio e independente.
- Ivan Amaya C.
O português é, essencialmente, o espanhol falado enquanto se come uma batata quente.
- Mike Taylor
O português é, essencialmente, o dinamarquês posando como uma língua românica.
- Benct Philip Jonsson
O português brasileiro é, essencialmente, o latim sem consoantes.
- Paulo Rónai (via Luís Henrique)
O português é, essencialmente, o português brasileiro sem vogais.
- Luís Henrique
O português é, essencialmente, o espanhol falado por um russo.
- Peter Clark
O português açoriano é, essencialmente, o português continental falado com os lábios franzidos.
- Ilvi
O português brasileiro é, essencialmente, o espanhol falado por portuguesas gostosas e com ritmo.
- Javier de la Rosa
O português é, essencialmente, um tipo de linguagem de contato com o espanhol e ... mais espanhol!
- Maria
O português é, essencialmente, o espanhol falado por um francês bêbado.
- Vacapinta
O português brasileiro é, essencialmente, o espanhol sem ossos.
- Carlos Quevedo
O português é, essencialmente, um mau latim que os espanhóis não conseguem entender.
- Humberto Ribeiro
O português é, essencialmente, o italiano falado por alguém sob efeito de sedativos.
- Ken Westmoreland
O português brasileiro é, essencialmente, o português em ritmo de bossa.
- Ivan Amaya C.
O português é, essencialmente, o espanhol que tem vergonha de seu património, de modo que se faz passar por uma língua eslava.
- Bill Van
O português é, essencialmente, um dialeto do espanhol que tem um exército e uma marinha.
- Leonardo Boiko
O português é, essencialmente, o espanhol que tem sido deixado de fora, na chuva, a noite toda.
- Paul Clarke

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Comentário
Caro Gurgel,
Divertidíssimo. Parabéns.
Enfim, simplesmente excelente (mas se pensas que este meu horripilante eco em "ente" é uma tentativa de assassinar a língua-mãe, atentai para o brutal "línguocídio" cometido, ainda que não intencional individualmente, pelo conluio matricida da dupla Paulo Rónai (via Luís Henrique) e Luís Henrique, que emudece neogalegos e baianos, castrando definitivamente nossos falares e escreveres em Portugal, Brasil, Cabo Verde, São Tomé, Bissau, Angola, Moçambique, além de uma meia dúzia de dois ou três bravos que resistem em Goa, Macau, Timor etc. e milhões de todos nós mundo afora, enterrando de uma vez por todas e matematicamente a nossa amada última (e desde agora brevíssima) flor do Lácio.
Vejamos:
"O português brasileiro é, essencialmente, o latim sem consoantes." - Paulo Rónai (via Luís Henrique)
"O português é, essencialmente, o português brasileiro sem vogais." - Luís Henrique
Donde:
O português é o latim sem vogais nem consoantes. Só nos restaram os acentos. Aliás, latim não tem acentos. Estamos incomunicáveis.
É assim, então, que nada me resta também senão, desesperado e comovido, iludir-me com a mal escrita tentativa de uma ínfima sobrevida...
Como segue:
- O português é rascunho ainda de uma nova indígena poesia sendo e a ser escrita, ilegível para cultas e remortas civilizações que, ocupadas de passados de tantas glórias, não decifram as páginas em branco do porvir (ou por vir?)...
É por certo meio apelativo... Mas dado o desespero emudecedor da situação...
Grande abraço, muito obrigado, e que não sejam estas as nossas derradeiras palavras.
(tentando sobreviver ao acidental atentado "linguocida" da dupla Luís Henrique e Paulo Rónai)
Resposta - Paulo Rónai, em "Não Perca o seu Latim", marca com a braquia (˘) as palavras latinas em que a penúltima sílaba é breve, para indicar que estão acentuadas na antepenúltima, e, mais raramente, com o mácron (¯), especialmente no fim de algumas palavras, para indicar a sílaba longa. Inexistindo no português os tais sinais diacríticos, isso só vem a agravar a situação de uma língua que, segundo ele e Luis Henrique, ao cabo de tudo e notadamente em Portugal, ficou só com acentos. Grande abraço. PGCS

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