17 julho, 2010

OlhO gOrdO

Circula pela internet, na categoria das curiosidades, a "informação" de que o olho humano é um órgão que não cresce após o nascimento. Assim, de recém-nato a adulto, os olhos de uma pessoa teriam, em situação de normalidade, as mesmas dimensões. Resolvi provocar o colega Nelson José Cunha, médico oftalmologista em João Monlevade - MG, sobre a veracidade disso. E o texto que ele me enviou é uma aula, além de ser bem divertido. Está sendo aqui publicado - com umas notas minhas no "rodapost".

Paulo,
O olho de um recém-nascido mede 16 mm (axial) e o de um adulto emétrope 23 mm (axial) . Talvez daí venha o mito de que o olho não cresce porque as outras dimensões do corpo aumentam muito mais. As razões do pequeno crescimento são: limitação imposta pela órbita, necessidade de ajustar o foco do mundo exterior à retina com o conjunto óptico córnea-cristalino que tem limites. Observe que, nos míopes axiais, o olho ao crescer meros 2 -3 mm ocasiona uma queda drástica da visão - mais de 90% de perda para longe. Hoje, medimos obrigatoriamente as dimensões dos olhos nos pacientes que vão se operar de catarata, porque faz parte da fórmula do poder dióptico da lente que vai ser colocada no lugar do cristalino. Vemos a extrema semelhança dimensional dos olhos das pessoas. Não importa se são altas e fortes ou pequenas e frágeis. O mesmo acontece com o pênis (1). Felizmente, a minha especialidade me poupa do constrangimento de ter que medi-los. Nos casos dos olhos e do pênis o tamanho do dedo não revela o gigante.
Notamos grandes diferenças no "tamanho" dos olhos entre as pessoas, mas isso decorre da posição dos olhos dentro das órbitas e não do seu tamanho real. Uma órbita profunda com pouca gordura retro-orbitária dá a impressão de olho pequeno. O inverso também acontece e simula um olho grande. Somos inclinados a achar um olho grande quando é maior a fenda palpebral e mais esclera fica visível.
Entre os animais notamos grande desproporção entre o tamanho dos olhos e as dimensões gerais, especialmente daqueles de hábitos noturnos, porque precisam de um elevado número de células retinianas (bastonetes). Há um lêmure em que o volume dos dois olhos é maior do que o restante da cabeça (2). Não me lembro do nome da espécie (2).
Nesse pequenino e agilíssimo animal, os olhos estão 80 % fora da órbita.
Olho grande é figura poética e o é de uma conhecida minha que matou meu limoeiro com uma simples olhada seguida de elogio (3).
Nelson
rOdapOst
(1) Aqui começa o processo de esvaziamento de outro mito, não é?
(2) Seria o Maurice (na imagem ao lado), um aye-aye do filme Madagascar? Ele é da família Daubentoniidae.
(3) Daí a importância, Nelson, de a gente sempre olhar a folha corrida das pessoas. Essa sua conhecida talvez já fosse, desde a época em que ela militava no Partido Verde, uma seca-pimenteira da marca maior. PGCS

Post scriptum
Paulo,
O lêmure é um tarsier. Há muitas referências sobre ele na net. Digite "tarsier skull" e verá o tamanho de suas órbitas com relação à cabeça.
Nelson

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