28 maio, 2023

Política do apito de cachorro

É uma mensagem política empregando linguagem em código que parece significar uma coisa para a população em geral, mas tem um significado mais específico e diferente para um subgrupo-alvo. A expressão é tradução literal do inglês dog-whistle politics. A analogia com os apitos de cachorro é feita por suas frequências ultrassônicas, que se situam acima da capacidade de audição humana, no entanto  podem ser ouvidas pelos cães.
Os supremacistas brancos usam várias formas de "dog whistles" (ou seja, comunicações codificadas) para transmitir suas ideias e valores racistas de forma dissimulada. Essas estratégias são projetadas para passar despercebidas para pessoas que não estão familiarizadas com o discurso supremacista branco, enquanto são facilmente identificáveis por aqueles que estão imersos nesse contexto. Embora seja importante observar que essas táticas podem variar ao longo do tempo, algumas das formas mais comuns de "dog whistles" usadas pelos supremacistas brancos incluem:
  1. Substituição de termos: Em vez de usar palavras abertamente racistas, os supremacistas brancos podem recorrer a eufemismos ou substituir termos politicamente corretos por outros que tenham conotações raciais negativas. Por exemplo, eles podem usar expressões como "defesa da cultura" ou "preservação do patrimônio" para mascarar uma agenda de supremacia branca.
  2. Referências históricas: Os supremacistas brancos muitas vezes fazem referências a eventos históricos, símbolos ou figuras que estão associados ao racismo. Por exemplo, eles podem usar a bandeira confederada, que é amplamente reconhecida como um símbolo de racismo nos Estados Unidos.
  3. Teorias da conspiração: Os supremacistas brancos podem se envolver em teorias da conspiração que reforçam sua visão de mundo. Por exemplo, eles podem espalhar a ideia de que existe uma "grande substituição" em andamento, alegando que os brancos estão sendo substituídos por outras raças por meio da imigração em massa.
  4. Linguagem de código: Alguns supremacistas brancos desenvolveram uma linguagem de código própria para se comunicar. Eles podem usar termos aparentemente inofensivos em fóruns, redes sociais ou em conversas pessoais para transmitir mensagens racistas a outros membros do movimento.
  5. Símbolos e gestos: Supremacistas brancos também podem usar símbolos e gestos para identificar sua afiliação a ideologias racistas, como o uso de tatuagens com símbolos nazistas, a saudação nazista, ou o sinal de OK feito com os dedos (que foi cooptado por alguns grupos extremistas como um símbolo de supremacia branca).
É fundamental estar atento a essas táticas e compreender o contexto em que são usadas. No entanto, é importante lembrar que nem todas as pessoas que usam certas palavras, símbolos ou expressões estão necessariamente associadas a ideologias supremacistas brancas. O contexto e a intenção por trás do uso dessas comunicações codificadas são cruciais para entender seu significado.
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No Brasil
Em 2020, o Secretário Especial da Cultura do Brasil, Roberto Alvim, utilizou-se em um discurso de elementos presentes no cenário dos discursos do ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels. As principais semelhanças percebidas foram: a foto de JMB ao centro da imagem, que remetia à foto de Hitler nos discursos de Goebbels; o cenário simples com apenas dois itens representativos em destaque, sendo eles uma Cruz de Caravaca e uma bandeira do Brasil, expondo assim apenas itens de ideias nacionalistas como a religiosidade e a pátria; a própria fala do secretário, que remetia ao discurso de Goebbels em que este apontou "o novo rumo da arte nazista"; e a música de fundo do vídeo, que se tratava da Ópera de Lohengrin, composta por Richard Wagner, ídolo de Hitler.
Também em 2020, o ex-presidente JMB ergueu um copo de leite e brindou com os presentes na mesa durante uma transmissão ao vivo. O ato foi considerado como uma referencia aos movimentos de supremacia branca, que constantemente se utilizam do leite como forma de representar a pureza branca, juntamente com afirmações como "tomar branco para tornar-se branco", sendo portanto um apito de cachorro para este grupo. O ex-presidente justificou o ato como sendo uma homenagem à Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite). Dias mais tarde, o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos gravou um vídeo repetindo o gesto, porém desta vez afirmando que "entedendores, entenderão". Em 2021, um assessor de JMB chamado Filipe Martins, utilizou-se do símbolo de "ok" durante uma reunião, postado ao fundo do ex-presidente enquanto o mesmo falava. O gesto foi interpretado como um ato racista pois o gesto também é conhecido como um símbolo supremacista branco. O assessor defendeu-se das acusações, dizendo que somente estava ajustando a lapela do paletó e foi absolvido.

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