P. Você qualifica esta época de grosseira e brega. Seriam adjetivos contraditórios, mas complementares?
R. Se não estiverem unidos, às vezes se alternam na mesma pessoa. Há uma grosseria deliberada e, depois, o mesmo indivíduo solta uma breguice descomunal no artigo seguinte, se falamos de escritores da imprensa.
P. Você fala também de baixeza, de vilania. O que houve, Marías?
R. Nunca fomos um país muito educado; os períodos democráticos verdadeiros foram escassos e duraram pouco, com exceção do atual. E parece que houve uma regressão. Há um pouco de baixeza na Espanha que reemergiu agora. Jovens que nasceram nos anos oitenta agora insultam este período; esse propósito de desprestígio me enche de perplexidade: é o melhor de todos os que tivemos. Nessa atitude há uma espécie de pulsão autodestrutiva que se dá aqui e que espero que não se consolide.
P. Poderia ser ufanismo da ignorância?
R. Sim. Ignora-se a história, falseia-se... Esqueci de dizer: a Internet tem coisas maravilhosas, mas há algo que é novidade: pela primeira vez a imbecilidade está organizada. Sempre houve imbecilidade; imbecis iam ao bar, tornavam públicas as suas imbecilidades, mas é agora que se organizam, com grande capacidade de contágio. E há um problema agregado: as pessoas se intimidam diante de internautas exaltados e se desculpam sem motivos. E as pessoas sofrem represálias. É truculência. E não há melhor forma de a truculência triunfar do que intimidando e amedrontando. A Espanha é um país particularmente adepto da truculência.
(extraído de um bate-papo do escritor Javier Marías com Juan Cruz, de El País, por ser muito oportuno divulgar no Brasil de hoje)
Vem ao caso - 1
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