04 agosto, 2015

A escravidão 2.0

De uma conversa em Paris, na École Normale Supérieure, entre David Graeber e Thomas Piketty, publicada na revista Mediapart e traduzida do francês para o site The Baffler.
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Piketty: "Um dos pontos que eu mais aprecio no livro de David Graeber é o elo que ele mostra entre a escravidão e a dívida pública. A forma mais extrema de dívida, diz ele, é a escravidão: os escravos sempre pertencem a outras pessoas e o mesmo, potencialmente, acontece a seus filhos. Em princípio, um dos grandes avanços da civilização tem sido a abolição da escravatura.
Como Graeber explica, a transmissão intergeracional da dívida que a escravidão reencarnada encontrou foi a moderna forma no crescimento da dívida pública, o que permite a transferência de endividamento de uma geração para a seguinte. É possível imaginar um exemplo extremo disso, com uma quantidade infinita de dívida pública no valor de não apenas um, mas de dez ou vinte anos de PIB, um fato que cria, para todos os efeitos, uma sociedade escravista, em que toda a produção e toda a criação de riqueza são dedicados ao pagamento da dívida.
Dessa forma, a maioria seria escravizada pela minoria, o que implica uma reversão para os primórdios da nossa história.
Na realidade, ainda não estamos nesse ponto. Há ainda uma abundância de capital para compensar as dívidas. Mas essa forma de olhar para as coisas nos ajuda a entender a nossa estranha situação, em que somos considerados culpados e estamos continuamente assaltados pela afirmação de que cada um de nós é o "dono" de trinta a quarenta mil euros de dívida pública do país."
[...]
Piketty [ao final]: "Quando os governos ocidentais querem enviar um milhão de soldados para o Kuwait para impedir que o petróleo do Kuwait seja apreendido pelo Iraque, eles fazem isso. Vamos ser sérios: Se eles não têm medo de um Iraque, eles não têm razão para temer as Bahamas ou Nova Jersey. Cobrança de impostos progressivos sobre a riqueza e o capital não apresentam problemas técnicos. É uma questão de vontade política.

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