Pai, o que você quer no Dia dos Pais?, perguntava com carinho.
Na maioria das vezes, perguntava por perguntar. A grana era curta. Muito curta, mesmo. E a gente ainda gastava com futilidades do dia a dia. E o presente, quase sempre, era um cinto novo, um par de meias... Quando melhorava um pouco, dava para ser um perfume - se viesse com um desodorante junto, era o top do top -, uma caixa de sabonetes... Hoje, talvez "evoluisse" para um apareclho celular ou coisa assim. Mas o importante era a lembrança.
A resposta era sempre doída:
- Não quero nada, filho. A única coisa que quero é que vocês sejam felizes.
- Ah, pai...!
Esse "Ah, pai...!" deveria ser completado com um gesto de carinho ou com a frase "... vocês sabem como somos gratos a vocês, como amamos vocês! De todo o coração!", mas ficava apenas, e sempre, no "Ah, pai...!".
Pior era quando a resposta do pai vinha acompanhada do inevitável sermão:
- Quero paz, tranquilidade, mas vocês só dão preocupação. Não sei o que vocês veem nessas farras? Vocês acham que esses amigos vão lhes dar futuro? Amigos assim não dão manga de camisa pra ninguém. Vocês têm todo o futuro pela frente e, final de semana, ficam nessa rotina vazia de botecos e andanças de madrugada. Correndo riscos desnecessários...
E seguia uma longa lista das bobagens recentes que fazíamos. E que tínhamos consciência que fazíamos. E mais consciência ainda que eram bobagens, mesmo. À época, nos parecia um sermão interminável e irritante.
- Tá bom, pai, vou perguntar pra mãe o que o senhor precisa, falava resignado.
E a mãe desfiava a mesma ladainha.
Hoje, talvez um pouco tarde, entendo-os perfeitamente, mas não tenho coragem de repetir a frase fatídica.
Ah, mas como gostaria de repeti-la. Com todo o sermão, carinho e amor de pai.
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