21 maio, 2015

Entre dois males

Durante uma noite de farra em uma taverna de Salisbury, alguns soldados estavam bebendo à saúde de outras pessoas. Nisso, um soldado fez o impensável: ele bebeu à saúde do Diabo. Corajosamente, desafiando o Diabo a aparecer, o soldado alegou que, se o Diabo não aparecia, era a prova de que nem o Diabo nem Deus existiam.
Companheiros de bebida do soldado fugiram assustados do recinto, mas voltaram "depois de ouvir um ruído medonho e de sentir um mau cheiro". O soldado tinha desaparecido, e tudo o que encontraram foi uma janela quebrada e uma barra de ferro coberta de sangue. Quanto ao soldado, nunca mais se ouviu falar dele.
Essa história peculiar, relatada em 1682 pelo ministro Samuel Clarke, era uma espécie de aviso sobre o destino traiçoeiro reservado aos bêbados. O soldado cometera o erro fatal de perder o juízo e beber à saúde do Diabo, trazendo o mal a seu mundo. Esta história, porém, era apenas uma dentre as terríveis possibilidades apontadas por Clarke. A doença corporal, a destruição espiritual, a loucura e, em última instância, a morte compreendiam os destinos trágicos que aguardavam os bêbados. [...]
No entanto, essas advertências dramáticas criaram respostas de céticos que questionavam a validade de tais alegações. Será que beber realmente resultava em decadência física? Poderia uma pessoa beber álcool sem se transformar num bêbado estúpido ou num fardo social indesejado?
Um desenho da revista Puck, de 1888, apresentou uma imagem diferente da temperança: como um equilíbrio "entre dois males".


À direita, um Intemperate Teetotaler, em seu esnobismo, recusando até mesmo contemplar um copo de álcool. À esquerda, um Intemperate Drunkard, que, em muitos aspectos, reflete a deterioração física já descrita anteriormente. No meio, no entanto, está um homem que representa a verdadeira temperança. Ele não tem sinais de decadência física, está bem vestido e com o semblante amável.
Sentado entre esses dois extremos, este homem – que representa a verdadeira temperança – agarra sua caneca de cerveja e sorri... como estivesse a pensar: "Eu não tenho nada a ver com nenhum de vocês".

Blurred Forms: An Unsteady History of Drunkenness, por Kriston D. Burton. In: the appendix

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