19 outubro, 2012

T-O-R-T-U-R-A

Por Guillermo, La Aldea Irreductible
Em 18 de julho de 1965, o oficial estadunidense Jeremiah Andrew Denton Jr. participava de uma missão de bombardeio no Vietname quando seu avião foi derrubado. Ele e seu copiloto, Bill Tschudy, foram capturados.
Levados a um campo de prisioneiros de guerra nos arredores de Hanói, passaram a sofrer maus tratos e confinamento.
Em 1966, Denton se viu obrigado a dar uma entrevista para a televisão vietnamita. Foi, então, quando ele, engenhosamente, conseguiu passar aos serviços de inteligência dos Estados Unidos a informação de que ele e outros prisioneiros de guerra estavam sendo submetidos a torturas.
Enquanto respondia as perguntas, Denton, simulando sensibilidade à iluminação, por diversas vezes piscou em Código Morse a palavra T-O-R-T-U-R-E (tortura).
T _
O _ _ _
R . _ .
T _
U . . _
E . 
Transmitida pela televisão estadunidense, em 17 de maio de 1966, a entrevista foi a primeira confirmação de que os prisioneiros de guerra estavam sendo torturados no Vietname.
Aqui temos um vídeo com um trecho da entrevista em que se vê como Denton passou a sua informação:


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Comentário
JB Costa
Pena que alguns ainda teimam em analisar o que já é história com a cabeça na contemporaneidade, sem atentar nem respeitar o contexto em que ocorreram os fatos abordados. A distorção por leituras fora das conjunturas afins transformam a narrativa histórica em mera ideologia de quinta categoria.
Por que ao se evocar o martírio desse militar tem que se evocar o que o EUA fizeram, e fazem, em Guatânamo? O que tem uma coisa a ver com a outra? A tortura desde a Declaração Universal dos Direitos do Homem é considerada inaceitável; seja em que situação for.
A guerra do Vietnam foi um produto genuíno da chamada guerra fria, contencioso que pôs à frente os dois sistemas que então tentavam a hegemonia global e que, como o próprio nome indicado, nunca "esquentou" ao ponto dos principais protagonistas - URSS e EUA - medirem forças diretamente. O embate ficou na periferia, seja pelo apoio às guerras de libertação colonial, auxílio militar e econômico a aliados para enfrentar inimigos internos (leia-se comunistas), repressão a movimentos que buscavam distensão do regime soviético (Hungria e Thecoslováquia), incentivo e auxílio a golpes de estado (Brasil, Chile etc), e por aí vai,.
Nesse sentido, esse conflito no sudeste asiático foi mais um cabo de guerra entre as duas potências citadas que, curiosamente, nunca foi oficializado, ou seja, não houve declaração formal de estado de guerra entre os americanos e o norte vietnamitas.
Se o custo humano e ambiental foi terrível para o lado vietnamita (dois milhões de mortos e feridos contra "apenas" cinquenta mil ianques; a quase destruição das florestas do país); se os americanos também torturaram muitas vezes seus inimigos; isso não justifica a crueldade e sadismo com que os prisioneiros americanos foram tratados.
Vamos deplorar, sim, e dar o devido peso em termos de sofrimento por mais essa insanidade humana. Mas os crimes contra a humanidade estão à parte dessas tétricas comparações. Esse é o grande salto qualitativo em termos de evolução do processo civilizatório que emerge das cinzas da segunda guerra mundial: a universalidade e a não relativização dos crimes contra a pessoa humana.

Selecionei o comentário acima, dentre os 32 comentários que os leitores enviaram para o Luis Nassif Online, portal em que esta postagem foi republicada com o título de O soldado que piscou em Código Morse a palavra "tortura".  
O oficial Jeremiah Denton fez carreira na Marinha dos Estados Unidos, até o posto de contra-almirante, e foi também senador pelo Alabama. http://en.wikipedia.org/wiki/Jeremiah_Denton

Esta postagem foi também republicada em 23/10/2012 no Montedo.com.

Um comentário:

Nelson Cunha disse...

A guerra do Vietnã é o maior exemplo da inutilidade das guerras. Os comunistas perderam um milhão de vidas e unificaram o país dentro dos preceitos marxistas. O que motivava o heroísmo vietcong era o sentimento de repulsa ao invasor e os valores socialistas. Hoje o Vietnã é um parque fabril anexado ao formidável "Capitalismo de Estado" chinês. Fábricas poluentes e dependentes de mão de obra ainda mais barata, são deslocados para lá.
A pergunta que cabe agora é:

Valeu a pena?