Cacá Medeiros Filho
O ano era 1966. Castelo Branco, o primeiro Presidente da ditadura, estava terminando o mandato. O regime ia promover uma "eleição indireta" para escolher o novo Presidente, sendo o General Costa e Silva o imbatível candidato oficial. Nara Leão comentou, em uma entrevista a um matutino carioca, que achava certa a escolha de um civil para a Presidência da República e afirmou, ainda, que considerava os exércitos desnecessários e prepotentes.
As declarações da musa da bossa nova chocaram a cúpula militar. Quase imediatamente, o gabinete do Ministro da Guerra enviou ao Ministério da Justiça uma representação contra Nara Leão, responsabilizando-a criminalmente, com pena que poderia atingir de um a cinco anos de cadeia, de acordo com o artigo 14 da Lei de Segurança Nacional.
Na opinião de vários militares, a entrevista, dentro de um plano de agitação que a cantora estaria participando, poderia ter algum dos seguintes objetivos: colocar o povo contra a eleição no Congresso do futuro Presidente; fortalecer o MDB para o lançamento de um candidato civil ou promoção pessoal numa tentativa de desmoralizar a "Revolução de março".
O documento enviado à Justiça continha uma análise digna de figurar nos anais do FEBEAPÁ: "a cantora preconiza a escolha de um Presidente civil, que governaria o país nos moldes estatais, guiado por uma política nacionalista que nada difere da linha nitidamente comunista". É bom lembrar que esse fato ocorria antes do período mais negro da ditadura, iniciado após a promulgação do AI-5, em dezembro de 1968.
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