por Fernando Gurgel Filho
Do porto, o navio parecia aquela imensidão. Ia da ponta da venta até lá na carraducarai. Arre égua, a viagem ia ser danada de bom.Quando abriram a porteira pra marmotada entrar, bastou gritar "rumbora, negada!" que foi uma gritaria da mulestia:
- Avia, homi. Mininu, se avexe, pare de morder a Fióta.
- Peraí, mãinha!
- Ó u mei! Sai du mei!
- Se avexe não, baitola!
- Deixe de ser jumento!
- Diabéisso?
Quando os retirantes todos entraram, a tripulação em pânico não sabia o que fazer. A maioria dos tripulantes - asiáticos, caribenhos, porto-riquenhos - nem sabia o que era uma rapadura, tapioca, baião de dois...
- Psiu, ei, seu Zé! Tem sarrabuiu?
- Buchada de bode, minha senhora?
- Monsieur, temos foie gras e entrecôte com aspargos.
- No fuá grátis de quem, homi? Nas entrecoxa da tua, fiu de uma quenga! Rocê rai morrer! Eu ti aspargo premero, seu peroba arrombado!
A comunicação estava totalmente comprometida. O comandante perdeu o controle da situação, perdeu a razão... A bandeira do navio, tão linda, balouçando ao vento, foi arrancada para fazer um vestido pra Mãequinha. Botaram umas calcinhas marrons pra quarar no convés e a piscina virou uma grande tina onde o pessoal se ensaboava com raspa de juá.
O navio perdeu o prumo e o rumo. Foi parar nas Ilhas Malvinas. A confusão aumentou. Naquela gritaria, onde o dialeto cearense predominava, aquela horda babélica desembarcou na ilha.
- Bora, Tonha, aqui tem uns cabritim fi duma égua marromeno!
O governador da ilha, com toda a fleuma inglesa, gritou:
- Peço penico!
E prevendo uma catástrofe de grandes proporções hasteou uma bandeira azul e branco e passou uma mensagem para a Casa Rosada: "Venham urgente! A Inglaterra está abandonando a Ilha!"
Aquilo não agradou argentinos nem nordestinos! E a situação piorou muito quando, para comemorar a conquista da Ilha, o ditador da Coreia do Norte foi convidado para desfilar na Marquês de Sapucaí, cheio de chapinhas de garrafa, com uma tanga feita de renda de bilros.
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