04 janeiro, 2013

Reflexões sobre o papel da literatura

«O que é a literatura, no sentido mais corrente, mais vulgar da palavra? Não é mais do que o mundo da eloquência, dos lugares-comuns, das frases redondas, das pessoas respeitáveis que em sua juventude observaram a vida e que, depois, uma vez atingida a fama, se entrincheiraram nas abstrações, nas cantilenas e nos raciocínios.» Boris Pasternak

«Creio que a literatura será sempre animada por um movimento de fuga vanguardista em relação ao resto da sociedade. Ela terá sempre um ambíguo papel de expressão do mal-estar ou da infelicidade social, sempre que esse mal-estar exista e, ao mesmo tempo, terá um papel utópico, de figuração de certas utopias. Ainda que o mundo esteja historicamente alienado, a literatura terá essa dupla função.» Roland Barthes

«Ignoro se a música sabe desesperar da música e se o mármore desespera do mármore, mas a literatura é um arte que sabe profetizar o tempo em que terá emudecido, encarniçar-se contra a própria virtude, enamorar-se da própria dissolução e cortejar o seu fim.» Jorge Luis Borges

«Evidentemente que se pode escrever sem necessidade de nos interrogarmos sobre as razões por que escrevemos. Um escritor, que contempla como sua caneta desenha as letras, possui pelo menos o direito de a deixar em suspenso para lhe dizer: Detém-te! Que sabes acerca de ti? Com que fim continuas avançando? Como não te dás conta de que tua tinta não deixa vestígios, que avanças com toda a liberdade, embora no vazio, que se não tropeças com nenhum obstáculo é porque nunca abandonaste o ponto de partida? E, no entanto, escreves: escreves sem descanso, descobrindo-me o que eu te dito e revelando-me o que eu sei. Os outros, ao ler, te enriquecem com o o que te tiram e te dão o que tu lhes ensinas. Agora, o que tu não fizeste, tu o fizeste; o que não escreveste, está escrito: estás condenada ao indelével, ao inapagável.» Maurice Blanchot

Comentário
A literatura no sentido mais amplo como você expôs é fascinante. Letra a letra, palavra a palavra, oração a oração... É como degustar o prato favorito.
O escritor Jorge Luis Borges: era mais fácil achá-lo absorto numa biblioteca do que em casa, não obstante a grande deficiência visual.
Recentemente, um amigo falou-me que os norte-americanos se debruçam nos livros de Machado de Assis para analisá-los. Woody Allen elogiou as obras de Machado, considerando-as de vanguarda.
Quem ama escrever tem um encontro com o divino definitivamente - dia a dia!

Um comentário:

Fernando Gurgel disse...

"Mais do que qualquer outra atividade espiritual da nossa espécie, a Arte, especialmente a Literatura, ..., em virtude mesmo do seu poder de contágio, tem e terá um grande destino em nossa triste humanidade.

O homem, por intermédio da Arte, não fica adstrito aos preconceitos e preceitos de seu tempo, de seu nascimento, de sua pátria, de sua raça; ele vai além disso, mais longe que pode, para alcançar a visão total do Universo e incorporar a sua vida na do Mundo.

… a Literatura reforça o nosso natural sentimento de solidariedade com os nossos semelhantes, explicando-lhes os defeitos, realçando-lhes as qualidades e zombando dos fúteis motivos que nos separam uns dos outros.”

Palavras de Lima Barreto no texto “O Destino da Literatura”