por Fernando Gurgel Filho (de Brasília)
Eles chegam cansados e com fome. Debilitados pela procura de alimentos e de um lugar onde ficar. Muitos chegam doentes, alguns machucados. Se não são socorridos, morrem.
Antigamente, eram visitas incômodas. Viravam brincadeiras de adultos e crianças quando chegavam. Depois, eram enxotados para longe, maltratados, ninguém os queria por perto. Prefeitos e servidores públicos chegavam a levá-los para bem longe de suas cidades.
Mas, felizmente, esta situação mudou muito. Hoje, são recolhidos com carinho, recebem alimentos e um lugar para ficar. Os que precisam recebem tratamento veterinário, remédios e uma atenção nunca vista. Há um batalhão de servidores públicos e de voluntários para lhes dar conforto e segurança. Até que estejam fortes o bastante para retornarem a seus lugares de origem. Depois são levados, de avião, até lugares onde possam continuar a viagem em relativa segurança.
Um tratamento humanitário sem limites. Um tratamento correto. Como deve ser o tratamento humano para com todos os seres deste planeta.
Quem sabe, um dia, os nossos humanos abandonados, principalmente as crianças e adolescentes, não recebam o mesmo tratamento que os pinguins da Patagônia?
Ainda acredito que este dia chegará!
Poderíamos começar mudando os nomes: ao invés de mendigos ou sem-teto, aqueles que procuram nossas cidades em busca de comida e algum conforto, ou os que vivem nas ruas, chamaríamos de pinguins da Patagônia.
Quando eles se aglomerassem em alguma cidade, espalharíamos a boa-nova: “Sua cidade - ou a praça/praia de sua cidade - está cheia de pinguins da Patagônia!”
As pessoas largariam tudo e sairiam em desabalada carreira para vê-los e dar-lhes boas-vindas.
Talvez se desiludissem à primeira vista. Afinal, como acontece com os pinguins, que imaginamos ser maiores e mais charmosos do que são, com os humanos pode acontecer a mesma coisa. Quando estão em seu habitat natural podem parecer sujos e feios. Mesmo assim, as pessoas do lugar logo se acostumariam e os achariam dignos de todo afeto e solidariedade.
Os ecologistas e biólogos depressa tratariam de limpá-los, medi-los, pesá-los e alimentá-los. Médicos seriam colocados de plantão para atender os que estivessem machucados ou doentes. A prefeitura reservaria – ou já estaria reservado – um lugar limpo e acolhedor para todos. As pessoas se cadastrariam como voluntárias para ajudar no dia-a-dia.
Finalmente, quando os nossos pinguins da Patagônia estivessem fortes e sadios, seriam levados de avião para onde quisessem. De graça, claro.
Afinal de contas, um pinguim da Patagônia merece um tratamento “humano”. Como todo ser vivo.
"Carruagens de gelo"
- o vídeo que o Oscar ignorou -
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