18 março, 2011

Ecologicamente correto

por Fernando Gurgel Filho (de Brasília)

Na igreja, depois do sermão, o padre falou:
- Quem quer ir para o céu levante a mão!
Todos os presentes foram rápidos e ergueram as mãozinhas.
- Quem quer ir para o céu AGORA!
Apenas algumas mãozinhas inocentes ficaram levantadas. Não devem ter entendido a proposta do padre.

Cartunista: Pavel Constantin, Romênia
Podemos fazer o mesmo teste:
- Quem quer o mundo livre de poluição e ecologicamente correto?
É quase certo que todo mundo, seja ecologista ou não, levantará as duas mãos de uma vez só. Entusiástica e convictamente.
- AGORA!
Se há turma parecida, podemos esperar que apenas alguns xiitas, mais aqueles que não entenderam as implicações da proposta, levantem timidamente as mãos.
Porque, para termos perspectiva imediata de um mundo melhor no futuro, devemos, em primeiro lugar, acabar definitivamente com a queima de petróleo e seus derivados. Depois, proibir terminantemente a construção de residências, o corte de árvores e a prospecção de minérios.
Isso necessariamente implica acabar imediatamente com qualquer veículo e máquina que utilize óleo, gasolina, álcool, carvão vegetal ou mineral, bem como com indústrias de móveis, decorações e construções de um modo geral.
Isso é possível?
Duvido e posso afirmar com total segurança que NUNCA será viável.
Paliativos sempre existirão, mas serão apenas algumas penitências e rezas para aplacar os deuses - no caso dos fiéis - ou a consciência dos que se dizem ecologistas.
Vamos exemplificar com a construção de uma casa ecologicamente correta. O material utilizado, bem como a forma de construir, pode trazer vários benefícios para o meio ambiente e para os moradores.
Entretanto, nenhuma casinha, por menor que seja, deixa de ser agressiva ao meio ambiente. No meu modesto entender, ecologicamente correta é uma adjetivação totalmente descabida.
Em primeiro lugar, uma construção necessita necessariamente de um terreno limpinho. Nenhuma graminha sobrevive em baixo de uma construção.
Depois, há que se evitar excesso de umidade. Então, qualquer tentativa de frutificar uma nascente na região deve ser eliminada, senão a construção degrada em pouco tempo.
Aí, como não há ser humano que conviva com insetos, devem ser eliminados cupins, formigas, lacraias, escorpiões, aranhas, baratas, mosquitos, moscas etc.
Durante a fase de construção, é enorme a demanda por água, matérias-primas e energia. A produção de lixo e resíduos é imensa. Quando finalmente habitada, os danos ao planeta já terão sido irreversíveis, e aí é que começa a pior parte, com necessidade de mais água, esgoto, energia, matérias-primas para móveis e eletrodomésticos e mais produção de lixos e resíduos.
E haja carros, asfaltos e danos ao meio ambiente.
Então, quem quer salvar o planeta AGORA?

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