18 novembro, 2008

Um santeiro cearense

O Brasil, com a fama de "maior país cristão do mundo", não tem um cartel de santos à altura deste título. Vai ver que a Igreja marcou mesmo o Brasil. E, por por conta disso, em se tratando de dar reconhecimento a um santo brasileiro, ela tem sido tão profundamente exigente.
No caso do Brasil, o funil da canonização usado pelo Vaticano apresenta o mais estreito dos bicos. Deixa passar muito pouco. O São Frei Galvão, a Santa Madre Paulina (que nem brasileira é e já foi comparada ao tenista Fernando Meligeni) e... quem mais?
Acredito haver pesado nisso o termos sido sempre tão mal contemplados na indicação do Advogado do Diabo. Dentre as autoridades eclesiásticas disponíveis, só velho ranzinza, mal-humorado e neurastênico é que a Cúria designa para apreciar processo de santo brasileiro. O resultado é que logo aparecem as fortíssimas objeções aos milagres do nosso candidato a santo.
Isto posto, devo dizer agora por que admiro o artista plástico Tarcísio Afonso Garcia. Dá-se principalmente quando releio uma antiga reportagem de jornal em que ele aparece descrevendo a sua busca pessoal pelos santos brasileiros. Levado por uma voz exterior (vox populi) que o fazia suspeitar da existência deles - Tarcísio foi encontrando-os, um a um.
É, assim, graças a ele, que o Brasil tem agora uma hagiologia de fazer inveja à Itália.
Ele chegou a essas descobertas por ele mesmo, acumulando as funções de folclorista com a de Advocatus Dei. Depois de ter dispensado os "préstimos" do Advocatus Diaboli. Aliás, quem está a serviço do belzebu, bode-preto, capiroto, maligno, tinhoso et caterva não pode ser lá grande coisa. Camufla-se de um título em latim para cometer os piores crimes de lesa-santidade.
Eis os santos brasileiros que Tarcísio encontrou:
Santo do Pau Oco, São Nunca, Santa Paciência, Santa Ignorância, Santo de Casa, Santo Remédio, Santo Dia, Santo de Barro, Todo Santo e Santa Briguilina das Pernas Finas.
Findo esse importante levantamento hagiológico, o grande desenhista de Otávio Bonfim deu o passo seguinte: criar as imagens para os santos encontrados. Sem elas, o seu trabalho ficaria incompleto e os santos nem sequer seriam venerados pelo povo brasileiro.

Serão mostradas amanhã. Reze para que dê certo.

2 comentários:

Paulo Gurgel disse...

Apesar de ser considerado o país de maior população católica do mundo, o Brasil demorou a ganhar santos para chamar de seu. A primeira personalidade a ser considerada uma santa brasileira foi Amabile Lucia Visintainer (1865-1942), a religiosa Madre Paulina, canonizada por João Paulo II em 19 de maio de 2002. Nascida na Itália, a freira passou a maior parte da vida no Brasil – atuou em Santa Catarina e em São Paulo, onde morreu no bairro do Ipiranga.
Antes, pelas mãos do mesmo papa João Paulo II, três missionários jesuítas ligados ao Paraguai mortos em terras brasileiras já haviam sido canonizados. O paraguaio Roque Gonzáles de Santa Cruz (1576-1628), o espanhol Afonso Rodrigues (1598-1628) e o também espanhol Juan de Castillo (1595-1628) ficaram conhecidos como os “mártires do Rio Grande do Sul”.
O primeiro santo brasileiro nascido no Brasil seria reconhecido apenas em 2007, em missa celebrada pelo papa Bento XVI em São Paulo. O frade franciscano Antônio de Sant’Anna Galvão (1739-1822), mais conhecido como Frei Galvão, é famoso entre os fiéis pelos relatos de curas milagrosas.
Um dos fundadores da vila que daria origem à cidade de São Paulo, o jesuíta espanhol José de Anchieta (1534-1597) foi declarado santo em 2014, pelo papa Francisco. No ano seguinte, acabaria reconhecido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) como um dos padroeiros do País.
Em 15 de outubro de 2017, papa Francisco elevou a lista. Em uma prática relativamente comum de seu pontificado, as canonizações coletivas de grupos, tornou santos, de uma só vez, outros 30 personagens brasileiros: os “mártires de Cunhaú e Uruaçu”, vítimas de dois morticínios realizados em 1645 durante as invasões holandesas ao Brasil.
(transcrito da Isto É 09/10/19)

Lúcia disse...

Conheço o Tarcísio Garcia: pessoa maravilhosa, excelente artista plástico. Foi morador, durante muitos anos - desde menino - da Rua Justiniano de Serpa, no bairro Otávio Bonfim. Ele é tio materno da minha nora que é filha de Fátima Garcia, do Blog Fortaleza em Fatos e Fotos e administra a página do facebook Fortaleza em fotos. Só agora encontrei esse blog, estando a seguir, cujas postagens estou gostando muito Mantive o Blog Da Cadeirinha de Arruar (Lúcia Bezerra de Paiva) de 2011 a 2016, quando dei uma pausa necessária, mas ele continua lá, com as postagens daquele período. Ontem, compartilhei a matéria "Pílula do Mato" na página do facebook "Coisas que o tempo levou, da qual sou a Moderadora. Apareça por lá (blog e página), Dr. Paulo Gurgel.Um abraço.