Tinha eu quatorze ou quinze anos de idade quando atendi pela primeira vez ao chamamento do álcool. Enturmado com alguns amigos do meu bairro, numa daquelas tardes que as responsabilidades não trazem mais. Um despretensioso ponto de venda de utensílios domésticos - cujo dono se acumpliciou conosco na armação - serviu de palco ao acontecimento em questão. Pelo fato de que lá não se vendeu, naquela tarde memorável, panela, jarro, moringa ou cinzeiro (tudo feito de barro). Ocupando-se apenas o estabelecimento - com o dono em seu novo papel de barman - a receber um grupo de cinco rapazes que andavam a fim de uma "malinação".
No interior do modestíssimo estabelecimento, com a porta fechada a tramela para que outros não adentrassem, lá estávamos nós. Sentados em bancos improvisados (caixotes), a provar do mel proibido. Em particular, eu temia a quem aparecesse de intrujão para depois sair me dedurando (ao pai, ao mestre-escola, ao juiz de menores etc). E, partilhando o temor com a rapaziada, eu também receava uma outra coisa. Por conta de algumas doses acima da conta, perder as tais estribeiras.
Ninguém da turma apresentava uma idéia exata de quando o álcool "pegava". E ficávamos olhando, uns para os outros, em busca dos sinais denunciadores. Rir à toa, dizer um disparate, engrolar a fala, por aí...
O fato é que bebericávamos com todo o cuidado. Cheios de línguas. Antevendo inclusive que, ao fim daquela reunião secreta, cada um tinha de chegar a sua casa com o poder pátrio sobre as próprias pernas. Por isso, nada de "chorar" muito à hora de pôr o rum no copo. E, como precaução extra, diluir bastante a dose colocada em Coca Cola, gelo e suco de limão.
Pois é, dá para notar em que eu fui me escorar para o primeiro porre de minha vida. No espírito da cuba-libre.
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