Já deu para entender que eu sou o homem-bala de um circo. Inicialmente, trabalhei algum tempo no Grande Circo Mirífico, fazendo parte da trupe de equilibristas. Eu fazia com a turma uma pirâmide humana de difícil estabilidade. A prova é que um dia ela desabou feio, me causando uma fratura. Baixei ao hospital e quando me recuperei o circo tinha-se mandado do lugar. Não me comunicando a partida, eu concluí que não mais me queriam. Talvez por julgarem que eu ia ficar com algum tipo de limitação.
Ora, eu fiquei de fato foi na pindaíba, me equilibrando por outros meios para sobreviver. Até que, um dia, me surgiu na frente o Gran Circo Portunhol, que estava precisando de um homem-bala. Aceitei na bucha o emprego oferecido. Estava a fim de me livrar da pecha de pé-frio (e alguém pode imaginar emprego mais adequado para isso?)... Também estava a fim de subir na vida, o salário era razoável... E eu logo aprendi a conviver com o canhão, metal e carne na maior harmonia, se completando... E, com pouco tempo de treinamento, já fazia parte do espetáculo.
Essa loucura que é o circo. O sujeito está aqui, no mês seguinte numa outra cidade... A menos que seja com alguém do próprio circo, não dá para levar vida sentimental. Eu acabei me envolvendo, me apaixonando mesmo por Lili, a contorcionista. Dotada de um corpo exato, no esplendor dos seus dezoitos anos, ela também correspondeu ao meu amor. Seis meses após, estávamos juntos como marido e mulher. O dono do circo, pela importância que tínhamos no picadeiro, nos arrumou um trailer privativo, o nosso ninho de amor. E, nos braços de Lili, eu era incansável. Nem o leão Nero a mim se igualava (mesmo estando ele no período do cio). Ah, não queira o amigo saber do que uma contorcionista é capaz na alcova!...
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