12 abril, 2022

Dalmo Dallari (31/12/1931 - 08/04/2022)

Natural de Serra Negra, no interior de São Paulo, Dalmo de Abreu Dallari (foto) se formou em Direito pela Universidade de São Paulo em 1957. Professor emérito da instituição pela qual se formou e da qual foi diretor, foi um prolífico escritor na área do Direito. Entre suas obras, destacam-se: "Elementos de Teoria Geral do Estado" e "O Futuro do Estado", em que trata do conceito de Estado mundial, do mundo sem Estados, dos chamados Super-Estados e dos múltiplos Estados do Bem-Estar. Em 1996, tornou-se professor catedrático da UNESCO na cadeira de Educação para a Paz, Direitos Humanos e Democracia e Tolerância. Conhecido por sua atuação em oposição ao regime militar, Dallari ajudou a organizar a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de SP. A organização foi intensamente buscada por perseguidos políticos e seus familiares, e teve papel importante na proteção de oposicionistas da ditadura. Dallari morreu aos 90 anos, na capital paulista, devido a um AVC.

A DITADURA ESPANCOU DALLARI
"Quando o Papa João Paulo II veio ao Brasil, em 1980, o jurista Dalmo Dallari, prof. titular da USP, foi designado para fazer uma leitura na primeira agenda do sumo-pontífice em São Paulo: uma missa no Campo de Marte.
Dallari representaria a Comissão Justiça e Paz (CJP), braço da cúria metropolitana voltado para a defesa dos direitos humanos, dos presos políticos e de seus familiares, que o arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns havia criado em 1972.
Dallari havia sido seu 1.º presidente e, naquele momento, ainda era seu membro mais conhecido. Na véspera, Dallari foi ao Campo de Marte se inteirar dos preparativos e da liturgia do ato. Quis se certificar qtos minutos teria para fazer os últimos ajustes no texto, já escrito.
Informações reunidas, foi embora para casa, no comecinho da noite. Ao chegar, em frente ao portão, levou uma coronhada e foi enfiado dentro de um carro. O grupo de agressores o levou a um terreno baldio na Av. J. Kubitschek e o espancou até deixá-lo caído, só e ensanguentado.
A muito custo, Dallari se levantou e andou até a avenida. Demorou para que um motorista parasse e aceitasse levá-lo, machucado, de volta à casa. Foi a esposa quem o levou ao pronto-socorro. Durante o trajeto e no atendimento médico, a maior preocupação de Dallari era com a missa.
Ele precisava estar a postos para ler seu texto, uma agenda importantíssima, de alcance internacional, que agora talvez repercutisse ainda mais. No dia seguinte, de cadeira de rodas, foi impedido de subir ao palco pelo acesso normal, nos fundos, por um militar.
Amigos ergueram a cadeira de rodas nos braços e ele conseguiu chegar à tribuna. Levantou-se, amparado pelos colegas José Carlos Dias e Flávio Bierrenbach, ambos da CJP.
O Papa se assustou com os machucados, curativos e ferimentos e perguntou o que havia acontecido.
Foi Dom Paulo quem respondeu, atribuindo o atentado a grupos de extermínio ligados à ditadura. "Fizeram isso com ele porque não tiveram coragem de fazer comigo, mas é um recado para mim", acrescentou o arcebispo.
Dallari, presente. Hoje e sempre!"
(Texto de Camilo Vannuchi)

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