17 novembro, 2019

A herança educacional da monarquia

Gregório Grisa (*)
O feriado da Proclamação da República desse ano foi marcado por comentários enaltecedores de membros do governo ao período imperial brasileiro. Inquieto diante disso, fiz rápidos comentários críticos a esse respeito, utilizando algumas informações sobre a educação.
Algumas pessoas ficaram contrariadas com o fato de eu ter trazido dados relativos ao analfabetismo para apontar o quão deslocados foram os rasgados elogios feitos pelo ministro da educação a Dom Pedro II e a monarquia. Abraham Weintraub chamou o monarca de "patriota, honesto e um dos maiores gestores e governantes da história".
O bom dessas contrariedades de rede sociais é que elas nos fazem voltar a estudos já feitos ou mesmo pesquisar algo que nunca tínhamos investigado.
O que os dados nos dizem em relação ao analfabetismo?
Como pode se ver na imagem abaixo, a transição para república converge historicamente com o início da queda do analfabetismo no Brasil. Sabe-se que muitos fatores explicam essa redução, a educação é um fenômeno multicausal. São variáveis a se considerar: o fim da escravidão, a política de incentivo a imigração europeia adotada no final do século XIX e início do XX, a urbanização crescente, o processo de industrialização, mudanças paradigmáticas no campo das ideias, entre outras.
Fonte: http://revistas.unisinos.br/index.php/educacao/article/view/6060

Não se está dizendo, portanto, que a república como sistema de governo é a causa da redução sistemática do analfabetismo, mas que ela é o contexto no qual ele ocorre. Com base nisso, podemos dizer que qualquer defesa da monarquia não se justifica politicamente e nem se assenta em dados quando falamos em educação.
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(*) Gregório Grisa é Doutor em Educação, Pós-Doutor em Sociologia pela UFRGS e Professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul.

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