12 outubro, 2012

A direita que ri

por Leandro Fortes, CartaCapital
(publicado em 10/10/12 / acessado em 11/10/12)
Tenho acompanhado nas redes sociais, desde cedo, e sem surpresa alguma, o êxtase subliterário de toda essa gente de direita que comemora a condenação de José Dirceu como um grande passo civilizatório da sociedade e do Judiciário brasileiro. Em muitos casos, essa exaltação beira a histeria ideológica, em outros, nada mais é do que uma possibilidade pessoal, física e moral, de se vingar desses tantos anos de ostracismo político imposto pelas sucessivas administrações do PT em nível federal. Não ganharam nada, não têm nada a comemorar, na verdade, mas se satisfazem com a desgraça do inimigo, tanto e de tal forma que nem percebem que todas essas graças vieram – só podiam vir – do mesmo sistema político que abominam, rejeitam e, por extensão, pretendem extinguir.
José Dirceu, como os demais condenados, foi tragado por uma circunstância criada exclusivamente pelo PT, a partir da posse de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, data de reinauguração do Brasil como nação e república, propriamente dita. Uma das primeiras decisões de Lula foi a de dar caráter republicano à Polícia Federal, depois de anos nos quais a corporação, sobretudo durante o governo Fernando Henrique Cardoso, esteve reduzida ao papel de milícia de governo. Foi esta Polícia Federal, prestigiada e profissionalizada, que investigou o dito mensalão do PT.
Responsável pela denúncia na Procuradoria Geral da República, o ex-procurador-geral Antonio Fernando de Souza jamais teria chegado ao cargo no governo FHC. Foi Lula, do PT, que decidiu respeitar a vontade da maioria dos integrantes do Ministério Público Federal – cada vez mais uma tropa da elite branca e conservadora do País – e nomear o primeiro da lista montada pelos pares, em eleições internas. Na vez dos tucanos, por oito anos, FHC manteve na PGR o procurador Geraldo Brindeiro, de triste memória, eternizado pela alcunha de “engavetador-geral” por ter se submetido à missão humilhante e subalterna de arquivar toda e qualquer investigação que tocasse nas franjas do Executivo, a seu tempo. Aí incluída a compra de votos no Congresso Nacional, em 1998, para a reeleição de Fernando Henrique. Se hoje o procurador-geral Roberto Gurgel passeia em pesada desenvoltura pela mídia, a esbanjar trejeitos e opiniões temerárias, o faz por causa da mesma circunstância de Antonio Fernando. Gurgel, assim como seu antecessor, foi tutelado por uma política republicana do PT.
Dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, seis foram indicados por Lula, dois por Dilma Rousseff. A condenação de José Dirceu e demais acusados emanou da maioria destes ministros. Lula poderia, mas não quis, ter feito do STF um aparelho petista de alto nível, imensamente manipulável e pronto para absolver qualquer um ligado à máquina do partido. Podia, como FHC, ter deixado ao País uma triste herança como a da nomeação de Gilmar Mendes. Mas não fez. Indicou, por um misto de retidão e ingenuidade, os algozes de seus companheiros. Joaquim Barbosa, o irascível relator do mensalão, o “menino pobre que mudou o Brasil”, não teria chegado a lugar nenhum, muito menos, alegremente, à capa de um panfleto de subjornalismo de extrema-direita, se não fosse Lula, o único e verdadeiro menino pobre que mudou a realidade brasileira.
O fato é que José Dirceu foi condenado sem provas. Por isso, ao invés de ficar cacarejando ódio e ressentimento nas redes sociais, a direita nacional deveria projetar minimamente para o futuro as consequências dessas jurisprudências de ocasião. Jurisprudências nascidas neste Supremo visivelmente refém da opinião publicada por uma mídia tão velha quanto ultrapassada. Toda essa ladainha sobre a teoria do domínio do fato e de sentenças baseadas em impressões pessoais tende a se voltar, inexoravelmente, contra o Estado de Direito e as garantias individuais de todos os brasileiros. É esperar para ver.
As comemorações pela desgraça de Dirceu podem elevar umas tantas alminhas caricatas ao paraíso provisório da mesquinharia política. Mas vem aí o mensalão mineiro, do PSDB, origem de todo o mal, embora, assim como o mensalão do PT, não tenha sido mensalão algum, mas um esquema bandido de financiamento de campanha e distribuição de sobras.
Eu quero só ver se esse clima de festim diabólico vai ser mantido quando for a vez do inefável Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas Gerais e ex-presidente do PSDB, subir a esse patíbulo de novas jurisprudências montado apenas para agradar a audiência.

13/10/2012 - Atualizando...
JOSÉ DIRCEU NÃO SABE NADAR por Fernando Morais

15 comentários:

Nelson Cunha disse...

É a velha tática da pseudo esquerda brasileira, quando surpreendidos em ato de rapinagem, desqualificam o acusador. Chamar quem se opôe ao crime, de direitista é confessar a falta de argumentos. A revista Veja foi ferramenta do PT quando denunciou o Collor. Hoje é golpista. A imprensa boa é aquela que diz amém em público e recebe a paga em privado. Hoje o ex-inimigo Collor é elogiado em palanque pelo Lula. Sarney, feto da ditadura, é intocável enquanto pratica seu melhor ofício: bajular o poder para servir ao apetite do bolso. De Maluf, nem me fale. Aí está a direita brasileira, aliciada pelo PT com o pretexto vago de " imprescindível base parlamentar" . Não sou de direita, nem de esquerda, estes são rótulos feitos para iludir. No mundo há dois partidos legítimos: O do bem e o do mal. O que ama a verdade e os valores democráticos e os outros, aí incluído o PT como instituição, nunca seus militantes traídos. É uma vergonha para o Brasil ter de testemunhar a defesa de criminosos condenados por unanimidade. Vergonhoso dar abrigo a um criminoso italiano porque é alegadamente de " esquerda" . Vergonhoso apoiar um Castro,Chaves e Ahmadinejah, só porque se dizem de " esquerda" . Ser de esquerda é ser honesto, democrático, verdadeiro, inclusivo.
Essa quadrilha que está no poder só se destaca quando trabalha contra pobreza, as demais virtudes a quadrilha não tem. Donde se conclui que roubar para dar aos pobres e ficar com a maior parte do butim, não nos impede de chamá-los de ladrões.

Nelson Cunha disse...

A argumentação infantil de que se FHC comprou apoio, Azeredo se aliou a Valério, justificam o crime petista é idêntica ao do meu neto de cinco anos surpreendido tomando sorvete antes do antes do almoço:

-Vô, Thais tambem tomou.

Que penalizem todas as farinhas, já que estã misturadas no mesmo saco. O PSDB não tem bala para atirar no PT uma vez que os citados acima e o Perillo, verificaram que a munição apodreceu na lama.
Estou verdadeiramente decepcionados com a nossa classe política. Os que aparentam mais honra estão no PSOL, mas depois do que aconteceu com o PT, estou desconfiado até da castidade do Papa aos 85 anos.
Aquela freirinha que lhe serve o café pela manhã é lindinha demais!

Nelson Cunha disse...

Paulo , hoje estou com a macaca. Quebrei o dedo polegar ao subir no telhado. A telha quebrou e fui ao chão. Já que não posso trepar, estou escrevendo para me divertir. Dei com a cara nesses humoristas da Carta Capital e não resisti. O Mino Carta gosta de dirigentes com vocação totalitária. Se você ler o que escrevia a favor dos gorilas fardados, você vai desconfiar da atual mercadoria que vende como se fosse sua .Sei que você não concorda com meus pontos de vista,mas como disse,
- hoje estou com a macaca!
A vida só é interessante porque está cheia de demônios. Onde eles estão ausentes, no céu, não há um entrevero há 500 anos.
E ainda dizem que lá é um paraiso. Asseguro-lhe que não é. Defenda o PT e estará salvo desse destino.
Abração do amigo, mando o queijo depois.
Nelson

Nelson Cunha disse...

Dirceu, mestre da tergiversação, acuado pela matilha de cães reacionários, abrigado na cidadela lulista, brada triunfante que o " povo" vai absolvê-lo ao fazer Haddad prefeito de São Paulo. Haddad em árabe significa Ferreiro. Aquele que forja escudos para proteger os seus.
Dirceu está a inaugurar o novo judiciário:
A justiça divina que emerge das urnas, uma vez que a voz do povo é a voz de Deus.
Em elegedo-e aquele, santifica-se este.
O noticiário de hoje assombra os otimistas com o Brasil. Os " ficha suja " receberam 3,4 milhões de votos.
Pela original Teoria Dirceziana - elegante neologismo- estariam todos inocentados, à começar pelo prefeito eleito de Osasco, do PSDB, o mais importante passageiro da nau dos inocentes. Como vêem, Osasco inocenta dois políticos com um só voto: João Paulo, O Pinóchio, e Giglio, O Corrupto. Um de cada partido: PT e PSDB.

Nelson Cunha disse...

Vejam que argumentação escabrosa desse jornalista:

" Lula poderia, mas não quis, ter feito do STF um aparelho PETISTA DE ALTO NÍVEL imensamente manipulável e pronto para absolver qualquer um ligado à máquina do partido. Podia, como FHC, ter deixado ao País uma triste herança como a da nomeação de Gilmar Mendes. Mas não fez. Indicou, POR UM MISTO DE RETIDÃO E INGENUIDADE, os algozes de seus companheiros."
-
Lula fez o que gostaria o jornalista, nomeou um advogado do PT, um amigo da familia Lula da Silva, um filiado ao PT, um confessadamente eleitor do PT, duas juízas da Justiça do Trabalho, tradicionalmente simpáticas aos sindicatos.
Não deu certo!
Essas pessoas eram petistas de outra corrente socialista - a dos que tem vergonha.


Em tempo:
O que significa transformar a mais alta corte de justiça num " aparelho petista de alto nível "???
Não seria " De mais baixo nível " ???
Nem Machiavel teve esse atrevimento ao aconselhar o Príncipe.



Paulo Gurgel disse...

Nelson,
Não vou rebater nada, você está realmente com a macaca.
Tendo quebrado o dedo opositor, nem sei como você conseguiu ânimo para contestar tanto.
Como nossa amizade é superior aos desencontros da política, espero que você recupere logo a sua capacidade de trepar.
Evite telhados. Não desejo saber que um amigo "subiu no telhado".

Paulo Gurgel disse...

Não sou eu que estou de volta.
"Generais já se acharam melhores que os políticos, mais “puros”. Como os juízes de hoje, os generais estavam preparados e eram patriotas. Desconfiavam dos políticos. Viam-se como expressão da sociedade. Liam na grande mídia que “precisavam responder aos anseios do País” e moralizar a política. Tinham um deles para pôr no poder.
O final daquele filme é conhecido. E o de agora?"

Nelson Cunha disse...

Paulo,
O dedo " opositor " como vê, é solidário ao dono na sua oposição. Foi ele por "ex officio" - o latim tá na moda- conclamou seus companheiros longilíneos a irem todos ao teclado para descarregarem a ira que se segue a estes acidentes domésticos. Podia muito bem ter ficado quieto e não quebraria o dedo nem ouviria da própria mulher que subir no telhado não é típico da minha idade.
Quem resiste a esse último improprério? Não tenho sangue de barata, bem entendido, daquela que não frequenta microondas.

Nelson Cunha disse...

Lamentavelmente a política corrompe. Castelo Branco foi um oficial exemplar. Meu pai serviu com ele no Quartel General de Fortaleza e só tinha elogios pela sua retidão. Sucumbiu ao oficialato e sem energia, foi vencido na sua intenção de convocar eleições logo depois do golpe. Dizem, amigos do meu pai, que ele era um democrata. Tenho lá minhas dúvidas porque o golpe não se justificava.
O exército brasilero foi doutrinado pelos americanos para verem em tudo a " ameaça comunista" . Uma bobagem, os comunistas tão temidos estão aí aliados na prática ao capital e na retórica " aos anseios dos pobres e oprimidos"
Pura empulhação.

Nelson Cunha disse...

Meu pai contava um exemplo de bom oficial do Castelo, uma história deliciosa que esqueci. Vou ver se algum conteporâneo resgata a história para que eu possa postá-la. Será " furo" histórico para seu blog.
Paulo, devemos ler a história sempre pela perspectiva da época. O que estou a escrever aqui hoje poderá me envergonhar no futuro. Tenho que ter essa noção porque já mudei muito nesses poucos anos terrenos. Como disse em postagem anterior, o sabor maravilhso do mundo é feito dessa sopa de grãos sadios e podres. Os sadios nutrem e os podres temperam. O virtuoso é quase sempre um chato.

Nelson Cunha disse...

Paulo,
Veja o que determina o estatuto do PT: Prevê a expulsão de filiados que tenham sido condenados “por crime infamante ou por práticas administrativas ilícitas, com sentença transitada em julgado.”

Nelson Cunha disse...

Paulo,
Verifique aí se tem fundamento de que Fidel acaba de falecer. A ser verdade a notícia, é outro " furo" para o Blog.

Nelson Cunha disse...

A notícia da morte do Fidel chegou via email amigo. Fui vericar e o homem está vi-vinho. A internet é também a casca de banana eletrônica, se não checar bem, o tombo é eletrônico.

Paulo Gurgel disse...

Nelson,
Fidel morreu e não morreu.
Vamos ver o que diz a TV Muro, de Sabará.
http://blogdopg.blogspot.com.br/2011/09/em-cima-do-muro.html#links
Agora, se ele subiu no telhado...
Antes isto do que virar um "coma andante".

Paulo Gurgel disse...

Castelo Branco levou uma vida militar exemplar.
Mas... conspirou contra o então Comandante Supremo das Forças Armadas (Jango).
Após o golpe de 64, foi eleito no Congresso sem voto contra (umas poucas abstenções). E o voto mais aplaudido, pasme, foi o de JK.
Castelo era castelista. Acreditava que podia "arrumar a casa" e voltar logo para os quartéis.
Infelizmente, foi derrotado pelos militares alinhados com Costa e Silva, que endureceram o regime e permaneceram no poder até 1985.