29 julho, 2022

Gerúndio e gerundismo

A predominância do infinitivo ou gerúndio num determinado falar é um cacoete linguístico chamado regionalismo sintático. Aqui no Nordeste, por exemplo, usa-se muito o gerúndio. Isso é uma idiossincrasia da língua portuguesa da região.
"Estou preparando as malas."
Em outras regiões, dir-se-ia: "Estou a preparar as malas."
Raimundo Welton Braga, in: Quora

Na verdade, o uso do gerúndio é comum em outras línguas latinas (espanhol, italiano, romeno etc.) e o português europeu é que, por influência francesa, começou a preferir a construção "a" + "infinitivo". Ou seja, foi uma mudança que os falantes de lá fizeram, e não os brasileiros.
Reclamemos, pois, do fenômeno do "gerundismo", que é um vício sintático típico dos operadores de telemarketing. 
O "gerundismo" troca o futuro do presente simples por uma forma alienígena ao modo de falar português. Quando, por exemplo, em vez de dizer "Resolverei seu problema hoje ainda" ou "Vou resolver seu problema hoje ainda", a moça do atendimento telefônico prefere copiar formas sintáticas inglesas do uso do gerúndio: "Vou estar resolvendo seu problema hoje ainda" (I will have been resolving your problem today yet).
Não há problema algum, gramaticalmente, em usar o gerúndio no futuro contínuo em frases do tipo:
"Não venha para cá agora, pois, pelo visto, você vai chegar quando eu vou estar ainda lavando o piso da casa".
É diferente de dizer: "Vamos estar enviando o pedido", "Vamos estar transferindo a ligação", "O senhor vai estar recebendo". Etc. 
Quando bastaria dizer: "Vamos enviar, vamos transferir, o senhor vai receber".
Basta o dono da empresa contratar gente de atendimento com um pouco mais de domínio da língua pátria. Não é o caso de normatizar.

Arquivo. Nota publicada em 2 de outubro de 2007, na qual protestei contra a demissão SEM JUSTA CAUSA do gerúndio em todos os órgãos do Governo do Distrito Federal.

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