22 outubro, 2015

O que é visto e o que não é visto

Você já ouviu falar na falácia da janela quebrada?
É um exemplo maravilhoso de como as consequências não intencionais não só se aplicam nas atividades de negócios e regulamentações governamentais como também nas pessoas, individualmente.
A falácia da janela quebrada foi introduzida pelo economista francês Frederic Bastiat, em 1850, em seu ensaio "Ce qu'on voit et Ce qu'on ne voit pas" (O que se vê e O que não se vê). V. RESENHA
É uma parábola sobre o filho de um lojista que, acidentalmente, quebra uma janela na loja de seu pai. Um espectador penaliza-se com a sorte do lojista, mas explica que a janela quebrada é realmente uma bênção, porque agora o vidraceiro vai ganhar algum dinheiro. Como resultado, o vidraceiro decide comemora o bom trabalho realizado, com uma parada no café local onde pede uma rodada de espressos para sua equipe.
Em suma, uma janela solitariamente quebrada foi uma bênção para a comunidade. As pessoas estão trabalhando, o dinheiro está trocando de mãos e todo mundo se beneficiou com o descuido do menino.
Isto, como Bastiat alude no título de seu ensaio, é o que é visto. É também o ponto em que a maioria das pessoas se detêm em sua análise. Detendo-se na superfície, elas tendem a ignorar o que é "invisível".
Mas o que não é visto nesta cidade da janela quebrada? Quais são as consequências não intencionais? E se o dono da loja tinha planejado encomendar um novo par de sapatos para a esposa, mas agora, por causa da despesa para consertar a janela quebrada, ele não pode mais se dar a esse luxo? Quem perde aqui?
Bem, a esposa, mas também o sapateiro. O dinheiro que teria ido para o sapateiro agora está sendo gasto em outro lugar. Assim, a janela quebrada ajuda o vidraceiro - isto é bastante visível - mas prejudica o sapateiro que perde a encomenda. Isto é o que não é visto.

RESENHA
Livro escrito na época da Revolução Francesa e do despontar da Revolução Industrial num estilo direto, onde se misturam comparações pedagógicas com fábulas satíricas, procurando pôr a claro os principais sofismas e mitos urbanos que circulavam, e ainda circulam, em torno dos conceitos de Estado, riqueza, socialismo, solidariedade, intervencionismo, imposto etc. Um sucesso que resistiu à prova do tempo. Por detrás do estilo leve o leitor encontrá o rigor e a independência de quem procura analisar todas as consequências de um ato, de uma teoria, de um hábito, de uma lei, e não supor simplesmente que elas são boas porque as intenções parecem boas. O renovamento atual do seu sucesso deve-se seguramente à semelhança entre a época em que Fréderic Bastiat viveu e a época atual: à sua Revolução Industrial poderemos substituir a nossa Revolução Informática, à sua Revolução Francesa poderemos substituir a nossa Mundialização.

Um comentário:

Fernando Gurgel disse...

Essa teoria tem uma outra versão, criminalística: "por que o vidro quebrado no carro abandonado em um bairro supostamente seguro é capaz de iniciar uma desenfreada ação criminosa?

Com base nos resultados obtidos, James Q. Wilson e George Kelling bradaram a principal tese de que altos índices de criminalidade não são consectários da pobreza, mas sim da ideia de abandono refletida nas ruas. O comportamento cumulativo de destruição leva à intuição humana de que não há regramento vigente e que há uma indiferença aos bens sociais, o que leva, inevitavelmente, a uma violência irracional.

A Teoria das Janelas Quebradas, dessa forma, mesmo que de um ponto de vista criminológico, conclui que o crime é maior em áreas onde a negligência, a sujeira, a desordem e o abuso são maiores."



Leia mais: http://jus.com.br/artigos/36622/direito-penal-da-limpeza-reflexoes-acerca-da-teoria-das-janelas-quebradas-e-do-direito-penal-do-inimigo#ixzz3pJXgYIOl