Manhã de Sexta-Feira Santa. As famílias de Curitiba saem das missas de rememoração da morte de Cristo. Algumas passam pela Praça Osório e encontram Emílio (*) embriagado, amparando-se em uma das palmeiras do logradouro.
Imediatamente reconhecido, vão até ele e o censuram:
— Emílio, mas nem o dia de hoje, em que todos se recolhem para lembrar a morte de Nosso Senhor, você respeita?
Nem sua visível embriaguez não o impede de uma tirada inteligente:
— Não foi no dia de hoje que se cometeu o maior crime da humanidade, em que mataram o Filho de Deus feito homem?
— Foi, é claro!… — responderam os piedosos conhecidos.
E ele completou:
— Pois quando a divindade sucumbe, a humanidade cambaleia…
(*) Emílio de Menezes (1866 — 1918), poeta e jornalista. De sua imaginação satírica brotavam, a todo instante, tiradas humorísticas como esta. Eleito para a Academia Brasileira de Letras, em 1914, Emílio faleceu quatro anos após — sem haver tomado posse de sua cadeira!
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