03 março, 2012

Soneto do Desmantelo Azul

Carlos Pena Filho (*)


Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori, as minhas mãos e as tuas.


Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.


E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.


E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.

(*) Carlos Pena Filho (Recife, 17 de maio de 1929 - Recife, 1 de julho de 1960) foi um dos mais importantes poetas pernambucanos da segunda metade do século XX. Conviveu com Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Mauro Mota, Gilberto Freyre e Jorge Amado, dentre outros. Faleceu aos 31 anos, vítima de um acidente ocorrido em Recife.Compositor, em parceria com Capiba, foi autor de letras de músicas de sucesso, entre as quais destaca-se “A mesma rosa amarela”, incorporada ao movimento da Bossa Nova na voz de Maysa.

Ver tambèm: Tudo azul.

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