Escrito por um mestre em dissecação, palavras como ninfa, pupa e larva estariam lá presentes, inevitavelmente.
Mas esse equívoco da imaginação foi logo desfeito pelo amigo: "é sobre um homem que se transforma em inseto". Um esclarecimento que, no entanto, não impediu o surgimento de novas inquietações na mente do jovem Toscana. Do tipo: seria a história de um homem que, por haver recebido uma grande carga de radiação, transformara-se num louva-a-deus gigante que atacava as pessoas?
Foi a leitura do livro que operou a metamorfose do leitor. Levando-o a (se) perguntar:
"Ponho veneno ou esmago o inseto, mas amo Gregorio Samsa. Por quê? O que ele fez para ganhar o meu carinho? Amo-o porque é feito de palavras, pois se aparecesse em minha porta eu o enxotaria a vassouradas. Benditas as palavras que embelezam um inseto monstruoso."
E a ênfase é dada, quando o romancista interroga, se essa novela de Kafka já fora adaptada para o cinema. E deseja que não tenha sido. O cinema faria um trabalho especialmente infeliz com o livro, ao apresentar coisas que Kafka não pensava em esclarecer. Como: as características físicas de Gregorio Samsa transformado em inseto, a peça que a irmã toca ao violino, o ruído que saía da boca de Gregorio quanto ele parou de falar etc.
Porque, para David Toscana, Gregório é (para ser apenas) palavra. E maldita seja a imagem (PGCS).
Referência: "10 livros que abalaram meu mundo", Casa da Palavra
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