"Enlaçado aos meus dois gentis pirralhos, deliro! Dissolvo-me em um fluido mágico e faço-me artista de colorir palavras. Delas extraio um mundo à nossa vontade, sem cinzas, ruídos ou maus odores, só cores, perfumes e sinfonias. Invento uma realidade própria na qual manipulo o tempo, deformo o espaço, subverto a lógica e as leis que governam os corpos. As aventuras engravidam, engordam e parem epopeias. A pequena plateia não pisca, aproveito para afundar-me nos olhos dela e emergir nos mares da alma infantil, onde tudo é possível. Navegamos nas aventuras do espírito durante o lapso desejado, longo ou breve. Seguimos fabricando alegrias simples com gargalhadas, tensão e sustos; tudo improvisado, feito à mão. O meu propósito é encantar e açucarar os minutos até que os vapores das panelas lembrem-nos da hora de almoçar. Acreditem! A felicidade existe e não tem mãe definida, pode brotar do sonho e até da ferida."
Extraída do conto "O galo falante", do médico Nelson José Cunha.
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