- Oi Saquinho! Era a saudação de todos que o conheciam. Levava na esportiva o apelido sarcástico.
Morava nas Cinzas(1) e fazia ponto na esquina da Santa Casa, que era meu caminho quando vinha do Colégio Castelo Branco na Avenida Dom Manuel. O tempo passou e só tive notícias dele numa aula de urologia naquele mesmo hospital. O professor contou, para deleite geral, a história do vendedor de loteria. Recém-formado, comprava bilhete das mãos do Saquinho e aproveitava para convencê-lo a se deixar operar da hidrocele(2). Depois de muita insistência conseguiu levá-lo à mesa de operação. O pós-operatório correu bem, mas depois da alta, Saquinho desapareceu do hospital e da esquina. Meses passados, num encontro fortuito, o cirurgião o encontrou na praça da estação. Estava alquebrado, sujo e bêbado. Quis saber as razões do seu sumiço.
- Doutor! Aquela operação acabou comigo. Depois dela minha Doralice(3) fugiu com outro e comecei a beber de paixão. Então fui saber com a amiga dela as razões da traição e pra minha surpresa soube que minha mulher não gostava de mim.
- O que ela gostava mesmo era da pancadinha."
Quando jovem, o médico oftalmologista Nelson José Cunha morou na região central de Fortaleza. Algumas reminiscências desse período, passadas para o papel, tomaram o nome de "Um hino às mulheres". Uma de suas cenas, "A cruel Doralice", foi a que o internauta acabou de ler.
Notas explicativas:
(1) Área do baixo meretrício em Fortaleza, antes da demolição de suas casas, em 1974, para a construção da avenida Leste-Oeste, atual avenida Presidente Castello Branco.
(2) Grande aumento dos testículos pelo acúmulo anormal de líquidos no saco escrotal.
(3) Não é a mesma Doralice, que ressurgiu na canção de Caymmi, eternizada pela voz de João Gilberto.
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