05 agosto, 2008

Tuberculose pulmonar inativa

Oi, Dr. Paulo: Tudo bom?
Estava pesquisando alguma informação sobre tuberculose na internet quando achei seu blog. Estou atualmente no Canadá passando uns meses com minha filha que já está morando aqui há um ano. A questão é que para permanecer mais tempo nesse país precisei me submeter ao raio X. Por causa de uma pequena cicatriz no pulmão os médicos canadenses estão achando que estou com tuberculose inativa e querem fazer acompanhamento médico comigo.

Esta é uma situação clínica muito observada no Brasil onde a tuberculose ainda é uma doença com importante prevalência.
Exemplifica-se pela pessoa que, ao fazer uma radiografia de tórax, descobre ser portadora de lesões sugestivas de tuberculose pulmonar. No entanto, ela não se queixa de sintomas.
Nos antecedentes clínicos desta pessoa, poderá constar a informação de uma tuberculose pulmonar que já foi tratada. Como poderá nada constar a respeito, já que a tuberculose pode haver cursado com poucos sintomas (confundindo-se com uma gripe) e pode também haver curado espontaneamente.
É bastante comum que esta doença, após a cura espontânea ou pelo tratamento, deixe lesões residuais permanentes no pulmão.
Encontrando-se a pessoa sem sintomas e sendo comparadas as lesões observadas na radiografia atual com aquelas que estão presentes nas radiografias anteriores (caso a pessoa disponha delas) é que poderá se falar em tuberculose pulmonar inativa. Na hipótese de que essas lesões, consideradas sugestivas de tuberculose, estejam se mostrando realmente estáveis ao longo do tempo.
Não havendo, porém, radiografias anteriores disponíveis, as lesões são a priori consideradas de origem recente. Outras causas possíveis para as lesões pulmonares, além da tuberculose, precisam ser investigadas através da tomografia computadorizada do tórax, broncoscopia e outros exames. Só então, após excluídas as demais causas, é que se tornará a falar em tuberculose - e de atividade a ser determinada. Pois aqui se necessitará de controles radiológicos periódicos até o médico assistente estar convencido da estabilidade das lesões pulmonares.
A qualquer tempo, se a pessoa passar a apresentar sintomas respiratórios, como tosse e expectoração, e mesmo sintomas gerais, deverá ser clinicamente reavaliada. Sendo indispensáveis, que se atualize a radiografia de tórax e que se coletem duas ou três amostras de escarro para as baciloscopias, inclusive para a cultura relacionada ao bacilo de Koch (BK).
Constatando-se a presença do BK em secreções respiratórias, a tuberculose passará a ser considerada ativa e a pessoa deverá se submeter ao tratamento específico. Sob o qual, muito antes de sua conclusão, a enfermidade perderá o poder infectante.
Mas, não se encontrando na condição atual de doente, esse tratamento torna-se desnecessário. Nem a pessoa, enquanto assim permanecer, representa um problema sanitário para a coletividade.

2 comentários:

Unknown disse...

Bom tarde Dr. Paulo Gurgel. Primeiramente eu gostaria de parabenizar o senhor pela atenção que o senhor demonstra tirando as dúvidas dos leitores com a relação as doenças e pelo conteúdo do blog em geral.
Eu tive um caso parecido com o da leitora que mora no Canadá. Esse ano eu prestei concurso para o Corpo de Bombeiros do Ceará, na fase de exames médicos eu apresentei uma lesão fibrosa no ápice do pulmão esquerdo, de acordo com o laudo do raio-x do tórax. A banca examinadora pediu que eu apresentasse exames complementares para verificar melhor essa lesão. Então, eu fiz uma TC do tórax em que confirmou essa lesão e o radiologista indicou TB como uma possível causa. Além desse eu fiz o PPD ( reator 13 mm) e espirometria ( laudo dentro da normalidade).
Eu levei os resultados para a avaliação clínica com a dr. Márcia Alcântara em que ela verificou os exames e o meu estado de saúde, principalmente o fato de eu ser assintomático,não podendo nem fazer o teste de escarro porque eu não tinha nenhum. Ela me considerou apto a exercer qualquer função física ou mental, bastando apenas fazer a quimioprofilaxia, que já está na fase final faltando 15 dias para completar.
No entanto,para a minha surpresa a banca examinadora não aceitou o laudo da médica e me eliminou do concurso alegando tuberculose pulmonar e que essa condição é incompatível com o cargo de bombeiro,podendo ser agravada no futuro.
Diante disso eu gostaria de tirar uma dúvida, é possível alguém ter a doença sem apresentar nenhum sintoma, ou se apenas a infecção é motivo para que alguém deixe de a exercer uma profissão?
Desde já agradeço a atenção.

Paulo Gurgel disse...

O caso relatado enquadra-se com grande probabilidade em tuberculose pulmonar inativa.
Você esteve sob os cuidados de uma grande pneumologista.
Acredito que a junta médica não aceitou o laudo por se basear em critérios estabelecidos no edital do concurso.
Em um hipotético agravamento de seu problema pulmonar no futuro bastará tratar-se que curará.
Aconselho guardar os exames realizados para comparações posteriores, quando necessárias.
P.S. - Sua página no Google+ é muito inteligente.