Encontrava-me no diário jardinar, entre muitas flexões e reflexões, quando o carteiro chegou e o meu nome gritou com uma carta na mão. Ante surpresa tão rude, não sei como pude chegar ao portão. Mas, cheguei e ... Ah, como eu já conhecia aquela letrinha gótica! Pois lendo o envelope bonito, em seu sobrescrito eu reconheci: Dr. Carta Pácio, o missivista-filósofo da mirabolância!
Eis a sua última carta:
"Prezado senhor,
O assunto ao qual chamo a sua atenção é da mais alta importância, uma vez que se relaciona com algo que nos é muito precioso: o corpo. Alicerçado em que consultei, à exaustão, os compêndios de anatomia de minha privada biblioteca (privada enquanto adjetivo, bem entendido). E que, após a tal consulta, acabo de chegar a uma irrefutável constatação. O homem tem - pasme o senhor! - o domínio útil do seu corpo, mas em verdade não é dele proprietário. Quer dizer, ele ganhou o corpo do qual deve tirar proveito (antes de o dar aos vermes); no entanto, ele chegou tarde, muito tarde.
Isto porque os homens da ciência - anatomistas, na maioria - estabeleceram o loteamento da carcaça humana. Nada deixando a que não se reportassem através de um de - partícula que confere relação de posse. A começar por Adão, não propriamente um anatomista (apenas um nomeador dos seres vivos em geral). Quando deu o nome a este belo pomo que o senhor carrega no pescoço, integrando os seus caracteres sexuais masculinos. O que é, aliás, aceitável, Adão, o super Adão, foi o pai primordial. Em nenhuma hipótese, porém, eu coonesto o que aconteceu depois.
Por exemplo, um guerreiro grego, naquilo que ele tinha de mais frágil, emprestar o nome ao mais robusto tendão do corpo humano. O guerreiro Aquiles, e chega a ser irônico o fato. Como também não coonesto o loteamento do homem pelos anatomistas de todos os tempos e lugares, só porque o dissecaram com o fim de estudo. E aproveito aqui para nobilitar os precursores da ciência que trata da forma e da estrutura do ser humano. Demócrito, Anaxágoras, Alcméon, Empédocles... mas esses homens eram uns filósofos!
Leia a carta inteira no Preblog.
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