PGCS
1 Na mesa posta, o frango desossado
(lembra o tempo? Ah, o tempo
em que eu era mais amado!)
o arroz à grega
para troiano nenhum botar defeito
que eu comia até dizer "chega!"
com aqueles anéis de cebola a dorê
tão supimpas (que a Deus eu pedia tivessem
o tamanho do bambolê);
e também a salada russa - uma tese
de gastronomia, porquanto não carregavas tu
a mão na maionese.
Depois de tudo, o arremate
sem o qual não fazíamos amor:
a mousse de chocolate.
2
Éramos pessoas de raro brilho
e nos amávamos
lambuzados em mel de milho
no piso frio da cozinha
enfrentando Deus, o mundo, o enxamear das moscas
de uma estrebaria vizinha.
Mas havia tamanho zelo
entrega, confiança mútua, que um do outro não escondia
o picador de gelo
tampouco a chave do freezer
como se à natureza humana de todo impossível fosse
cair em deslize.
Raras, as nossas animosidades
eram sempre trituradas num super-liquidificador
de seis velocidades.
3
Um dia, porém, deu-se o disparate
(quando eu, com a paciência de um preto velho
tirava a pele dos tomates).
Ai que me disseste: "melão com presunto
é o que existe de mais opíparo."
O que me fez rir te ti, do teu bestunto
outrora conhecedor sem igual da arte
gastronômica, coisa e tal...
E fiz um aparte
no qual, do cimo de um traquejo
mil vezes vencedor na prova de encher a terrina
com pequeninos cubos de queijo,
eu defendi ser o quibe
mesmo feito de véspera, a mais fina iguaria existente
(na verdade, a minha diatribe).
O poema inteiro (6 estrofes) com a reconciliação final está no Preblog.
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