Lourenço era o tipo do sujeito frouxo. Desses de levar desaforo para a casa porque, na "hora R" (de reagir), já se via... Lourenço se punha a tremer que nem palma de coqueiro-babão. E... pernas para que vos quero, não está mais aí quem falou, Deus é grande mas o mato é maior, enquanto eu correr meu pai tem filho, para os mortos sepultura e para os vivos... escapula! Boi é pouco, Lourenço dava logo a boiada inteira para não entrar em briga, discussão ou entrevero (com o magarefe do bairro, então avaliem).
Poltronaria à parte, havia um projeto por que Lourenço se babava de um modo torrencial. Ir, pelo menos uma vez, ao Forró do Arnaldo que existia e dava função nas proximidades de sua residência. Principalmente quando, ao portão de casa, ele via o desfilar do mulherio a caminho do forró. Cada mulher de deixar Lourenço entre embevecido e assanhado. Numa de imaginar-se em plena sessão bate-coxa com uma delas, depois com outra e outra, botando para fora (epa!) a própria timidez.
Mas... cadê coragem para adentrar aqueles domínios de cabra-macho? Sim, porque outra coisa não era o Forró do Arnaldo. A dar crédito a umas tantas histórias que circulavam pelo bairro, e que causavam frio na espinha de quem as ouvia, era bem perigoso o arrasta-pé. Havia acontecidos em profusão que patenteavam a macheza de seus freqüentadores - uns homens capazes de, a uma minúscula provocação, logo estripar quem na frente estivesse! De fato, assim não dava para Lourenço, o Frouxo. Que sentia contorção intestinal só ao pensar em tal ambiente metido.
Ah, não estando sob forte coação, naquele local ele jamais poria os pés!... Coragem não é dor-de-dente que dá em todo mundo!
Um dia, porém, Lourenço se viu obrigado a fazer das tripas (epa!) coração. Por haver aceitado um convite da parte de Ermelinda - mulher de fechar o shopping center - para ir ter com ela, sabem onde? No Forró do Arnaldo, acreditem, e não podendo faltar! Pois Ermelinda era a personagem mais habitual em seus devaneios de rapaz solito. Mas que agora, graças a Deus, começaria a perder a diafanidade, para se tornar um ente de carne e osso (mais o primeiro item) a entrar em sua vida. Desde que ele, claro, não perdesse bestamente a oportunidade ali surgida.
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