Proteína derivada do casulo pode ser utilizada em processos de descontaminação
Além do fio de seda propriamente dito, o casulo do bicho-da-seda é formado, também, por um tipo de cola: uma proteína, chamada sericina, que une os fios de seda uns aos outros, cimenta o invólucro e protege o fio no casulo. No processo industrial atual, a sericina é separada da seda e descartada, tornando-se uma fonte de poluição das águas ou, caso a indústria trate seu efluente, gerando custos extras. Processo desenvolvido na Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), no entanto, mostra que essa cola natural pode ter um destino mais nobre: em vez de poluir, ela pode limpar a água, removendo metais tóxicos dos efluentes.
O processo que transforma a sericina, de sujeira descartável em auxiliar do meio ambiente, é descrito na tese de doutorado "Desenvolvimento e avaliação de partículas à base de blendas entre sericina e alginato para aplicação ambiental", defendida por Thiago Lopes da Silva e orientada pela professora Meuris Gurgel Carlos da Silva, na FEQ. Em seu trabalho, Thiago criou partículas feitas de uma combinação de sericina e alginato – um derivado de algas marinhas – que se mostraram capazes de retirar da água metais tóxicos como cromo, prata, cádmio, zinco ou chumbo, atingindo taxas de remoção que, dependendo do metal, podem chegar a mais de 99%. O processo também funciona com metais preciosos como a prata, o ouro, o paládio e a platina.
"O principal foco do nosso trabalho foi avaliar a remoção de prata, pois, além dela ser um metal nobre, e sua remoção de efluentes apresentar benefícios econômicos, ela é tóxica quando está na sua forma iônica, dissolvida em água", explicou o autor da tese. "A prata é o metal nobre mais utilizado em processos industriais, e o crescente desenvolvimento de novos produtos que utilizam esse metal como agente bactericida, como por exemplo em materiais esportivos, faz com que a geração de efluentes que contêm o metal também aumente".
O princípio do processo de descontaminação é semelhante à filtragem por carvão. A água contaminada com metais é colocada em contato com as partículas, de sericina e alginato, e sai purificada. Os metais, que ficam capturados nas partículas, podem ser depois concentrados e reaproveitados. As partículas, após a extração do metal, também podem ser reutilizadas em novos ciclos de purificação de água.
"Se a gente consegue pegar uma coisa que está extremamente diluída em água, porém ainda acima do limite legal para descarte, e concentrar numa forma que viabilize a recuperação desse metal, isso é algo de grande interesse, devido ao alto valor comercial. Então, além do lado ambiental, a remoção dessa parte tóxica da água tem uma etapa de alto valor econômico", disse ele.
"Já existiam alguns poucos estudos usando apenas a sericina, em pó, para a recuperação de ouro da água e alguns metais", disse a pesquisadora Melissa Gurgel Adeodato Vieira, coorientadora da tese. "Mas ainda não se havia trabalhado a aplicação, propriamente dita, na parte ambiental. A utilização da sericina pura, em pó, não permite a aplicação em processos de descontaminação em escala industrial. O desenvolvimento das partículas com alginato resolveu o problema. O nosso laboratório já tem o know-how de estudos para recuperação e tratamento de efluentes industriais, contaminados seja de metais, corantes ou compostos orgânicos", prosseguiu.
"A incorporação da alginato trouxe uma maior estabilidade à partícula", complementou ela. "Ele é um biopolímero extraído de algas marinhas que tem muitas aplicações na indústria farmacêutica, na indústria de alimentos, e já era utilizado em algumas pesquisas na área ambiental".
Onde ler o artigo completo:
Jornal da Unicamp, 21/10/2016 – ANO 2016 – Nº 673
Texto: Carlos Orsi
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