Será que a vida evoluiria de forma diferente na Terra, se nós nunca tivéssemos a Lua? As noites escuras teriam mantido nossos ancestrais nas cavernas ou eles teriam evoluído para uma visão de raio-X?
Naman Dixit
Cecil Adams (*) responde:Ora, as noites escuras seriam o menor dos nossos problemas.
Cosmologicamente falando, a Terra tem sido extremamente sortuda. A produção de energia pelo Sol vem se mantendo relativamente estável ao longo de grande parte da evolução da vida. A nossa órbita está, em segurança, na chamada zona habitável, onde a superfície de um planeta tem água líquida. Temos evitado, até o momento, ser quebrado em pedaços por cometas, sugado para dentro de buracos negros ou irradiado por supernovas. Com todos os perigos do universo, as chances de desenvolvimento de vida em um planeta são muito pequenas. Mas, está muito bem estabelecido que as condições de sustentação da vida na Terra foram aprimoradas, em algum grau, pela companhia lunar; o único debate é saber quanto.
Alguns dos benefícios mais comumente propostos por termos a Lua:
Ela nos livrou da poluição primordial. A Lua provavelmente foi formada quando algum planeta menor atingiu a Terra, acerca de 4,5 bilhões de anos atrás, ejetando pedaços de detritos que eventualmente se fundiram em órbita. Fundamentalmente, essa colisão também pode ter arrancado uma espessa proto-atmosfera que estava retendo o calor da superfície derretida na Terra. Sem esse violento episódio, a Terra poderia ter acabado como Vênus, onde a vida é apenas imaginável por Ray Bradbury.
Ela nos mantém quentinhos. Esse impacto também contribuiu para o aquecimento do núcleo de ferro da Terra, que nos fornece um campo magnético relativamente forte. Este, por sua vez, nos protege da radiação e dos ventos solares. E a força da gravidade da Lua atua sobre cada átomo da Terra, alimentando as marés (veja abaixo) e criando um calor adicional, o qual protege o núcleo terrestre de um arrefecimento rápido demais.
Ela foi um seguro contra sermos atirados para o espaço interestelar. Nos jovens e inquietos primeiros anos do sistema solar, a força gravitacional dos planetas maiores (leia-se: Júpiter e Saturno) podia interferir com as órbitas dos menores, às vezes, arremessando-os completamente para fora do sistema solar. Simulações de computador sugerem que, mesmo se isso tivesse acontecido com a Terra, as propriedades de aquecimento da gravitação da Lua (descrito acima) poderia tê-la mantido com o calor suficiente para que a água permaneçesse líquida e a vida a evoluisse de qualquer maneira.
Ela cria as marés. A órbita da Lua, que já foi mais perto da Terra, gerava marés mais elevadas. Essas marés deixavam extensas piscinas, onde a sopa primordial de aminoácidos do oceano podia ser concentrada pela evaporação repetida. E da sincronização entre o fluxo das marés e a exposição à radiação UV solar pode ter resultado na placa de Petri necessária para a vida a evoluir.
Ela teve uma influência estabilizadora. A fim de que a vida se desenvolvesse na Terra, nós precisávamos de temperaturas estáveis e de um clima regular. Variações de até um grau na inclinação axial da Terra em órbita pode ter levado a eras glaciais no passado. A Lua, com sua grande massa, atuou como uma importante força estabilizadora em nosso eixo (bem como ajudando a manter-nos dentro da zona habitável). Sem ela, nós poderíamos ter terminado como Marte, cujas luas são muito menores e cuja inclinação pode variar em até 60 graus ao longo de um período.
Sem a Lua, é claro, o nosso destino seria drasticamente diferente por causa do desalinhamento dos signos astrológicos. Mas, pelo lado positivo, não ouviríamos mais falar sobre esse mito do ciclo lunar / menstruação. Será que o mooning (exibição das nádegas) ainda seria popular? Será que Pink Floyd existiria? Estas são perguntas que, não tendo sido submetidos à dura disciplina da Ciência, deixa-nos a imaginar o potencial de uma loja de horrores. |E, não obstante as oportunidades perdidas para a visão noturna, vamos ser gratos pela que já temos.
What would earth be like without the moon? In: The Straight Dope
(*) Cecil luta contra a ignorância desde 1973. Não esperava que fosse por tanto tempo.
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