20 julho, 2012

Com brinco não se brinca

Deu-se o acontecimento num barzinho da moda na Aldeota. Dríncávamos eu e minha mulher, quando ela, pondo a mão em uma das orelhas, subitamente exclamou: "perdi um dos brincos". E pôs-se a percorrer com o olhar o chão do barzinho, em busca de uma pequena esfera de ouro, o brinco extraviado, secundado por mim. Que logo considerei um empreendimento difícil, tantas eram as reentrâncias do piso daquele lugar.
Pessoas das mesas vizinhas passaram a olhar com espanto o casal da vista baixa, isto é, nós. Reforçado, depois de algum tempo, pela participação do faxineiro da casa com vassoura e pazinha à mão. Mas o diabo do brinco não conseguia ser localizado para desespero de minha mulher, em virtude de ser um adereço com importância afetiva: o par de brincos pertencia à nossa filha de dois anos.
Em má hora, minha esposa o tomara "emprestado", por combinar com a roupa com que ia sair.
Procura que procura, o brinquinho acabou sendo encontrado. Pelo faxineiro que nos ajudava espontaneamente e que assim se fez merecedor de uma gorjeta. Então, minha mulher tratou logo de recolocar o brinco na orelha, quando lá deixou cair... desta vez, a rosca do brinco. Depois do diminuto, íamos agora enfrentar o infinitamente pequeno.
Fiquei de fora da nova busca. Enquanto pensava sobre o que poderia esperar de alguém que, dias atrás, perdera uma das lentes de contato. Na verdade, não a perdera, a lente apenas migrara da córnea para um dos cantos do olho, deixando a mulher "chorosa" até que o caso fosse esclarecido.
Apesar de estar perdido no mais difícil dos terrenos, a rosquinha do brinco também foi encontrada. Pelo mesmo e bom ajudante que recebeu uma gorjeta complementar (do tamanho inversamente proporcional ao do objeto localizado, a regra era essa). Quanto à esposa, esta recebeu um conselho meu. Somente usar brincos grandes, de pingente, e que repicassem ao cair.
Não é todo dia que a gente encontra por aí alguém com olhos de lince. Vai ver capaz de enxergar até micróbio de caspa.
PGCS (1992)

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