Pouquíssimas pessoas já ouviram falar em Laurindo Rabelo, mas é provável que muitas conheçam os versos: "No cume da minha serra/ Eu plantei uma roseira,/ Quanto mais as rosas brotam/ Tanto mais o cume cheira". Essa singela quadrinha abre o famoso poema escatológico "As rosas do cume" (com nove estrofes), que fez sucesso nos saraus literários do século XIX e é atribuído ao poeta fluminense Laurindo José da Silva Rabelo (1826-1864).
Falcão, rei da música brega contemporânea, gravou uma versão (com quatro estrofes) do poema no álbum "Do penico à bomba atômica" (2000), com o título "No cume", cuja autoria é atribuída ao próprio intérprete e a Plautus Cunha.
Personalidade polêmica, o médico e professor Laurindo se celebrizou com sua poesia de tendência ultrarromântica e com os desafetos que colecionou na sociedade da época. À parte as lendas biográficas, na maioria das vezes exageros de críticos impressionistas, Laurindo escreveu poemas com dicções variadas, desde o soneto metricamente perfeito – que levou o parnasiano Alberto de Oliveira a incluí-lo entre os autores d’Os cem melhores sonetos brasileiros – à trova escabrosa, de temática e linguagem obscenas."As rosas do cume" e outros poemas obscenos de Laurindo foram publicados em "Poesias livres" (1882), opúsculo de encadernação e papel baratos que se tornou raridade. Atualmente, conheço apenas quatro acervos que possuem exemplares desse livro: a Biblioteca José de Alencar, da Faculdade de Letras (UFRJ); as coleções particulares de Antonio Carlos Secchin – poeta, professor e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) – e de Israel Souza Lima, biógrafo dos patronos da ABL; e o acervo José Ramos Tinhorão, do Instituto Moreira Salles.
Extraído de: https://jornalggn.com.br/noticia/a-poesia-obscena-de-laurindo-rabelo, artigo de Fabio Frohwein de Salles Moniz, que é pesquisador na área de Literatura do Instituto Moreira Salles.
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