07 abril, 2023

O poeta e o repentista

Quando começou a escrever sonetos, Ariano Suassuna já tinha uma grande admiração por Dimas Batista, repentista de São José do Egito, município do sertão de Pernambuco. Certa vez, ao encontrá-lo em uma cantoria, falou: "Dimas estou escrevendo um soneto".
Batista, respondeu: "Muito bem, Ariano".
Três meses depois, em novo encontro, Ariano diz: "Dimas, estou em tal linha daquele soneto".
Aí, três ou quatro meses depois, Suassuna encontrou Dimas em outra cantoria e falou: "Dimas, terminei um quarteto".
E assim o tempo foi passando...
Dois anos depois, Ariano se encontrou mais uma vez com Dimas e disse: "Terminei o soneto". E apresentou ao repentista a obra concluída.
Foi quando Batista  respondeu, de improviso, com estes gloriosos undecassílabos:

Eu muito admiro o poeta da praça
Que passa dois anos fazendo um soneto.
Depois de três meses termina um quarteto,
Com todo esse tempo, ainda fica sem graça.
Com tinta e papel, o esboço ele traça
Contando nos dedos pra metrificar.
Que noites de sono ele perde a estudar
A fim de mostrar tão minguado produto,
Pois desses eu faço dois, três num minuto
Cantando galope na beira do mar.

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