30 maio, 2022

Vislumbres do futuro

Hoje quero falar sobre esses momentos em que o futuro cai em nosso colo, sem avisar ou pensar se estamos prontos para enfrentá-lo. Trabalhando com tecnologia, todos nós temos momentos em que parece que o véu foi levantado e temos um vislumbre do que está por vir. Esses momentos são pessoais, mas tenho certeza de que todos vocês podem pensar em alguns por experiência própria. Um exemplo da minha vida é a primeira vez que experimentei wi-fi. Não parecia grande coisa no início - por que eu não poderia simplesmente usar um cabo Ethernet de dez metros e aproveitar a velocidade de conexão mais rápida?
Mas da primeira vez que verifiquei meu e-mail do sofá, sem fios entrando no computador, entendi. De agora em diante, a Internet não seria algo que eu usasse em algum lugar. Estaria ao nosso redor, como o éter, preenchendo todos os espaços (exceto esta sala). Eu sabia que isso não aconteceria imediatamente, mas iria acontecer. E adorei essa sensação de saber o que aconteceria a seguir. Esses vislumbres podem ser viciantes. Para alguns de nós, a sensação de ter um pé no futuro foi o que primeiro nos atraiu para a tecnologia, ou ficção científica. Vocês, pessoas da Nova Zelândia, são especialmente sortudos por estarem mais perto do amanhã do que qualquer outra pessoa.
Mas esses vislumbres também enganam. Se você não tomar cuidado, você acaba como esse pobre coitado, o profeta digital da AOL. Sempre que tentamos prever como realmente será viver naquele futuro, qual será o sabor do futuro, invariavelmente falhamos, e das maneiras mais ridículas. É como uma estranha lei da natureza. Podemos ver as tecnologias chegando, mas esse conhecimento de alguma forma torna o futuro menos previsível.


Talvez possamos prever o Roomba com cem anos de antecedência, mas o colocamos em um mundo onde as mulheres ainda usam espartilhos de crinolina e osso de baleia. Ou então predizemos corretamente que a Enciclopédia Britânica um dia caberá na cabeça de um alfinete, nunca imaginando que a própria Britannica se tornará uma relíquia, substituída por algo livre, colaborativo e extenso chamado Wikipedia. Essas previsões não estão erradas, "nem mesmo estão erradas", elas erram o ponto básico. O futuro torna todos nós tolos.

OUR COMRADE THE ELECTRON (NOSSO CAMARADA, O ELÉTRON) - 2.ª parte desta palestra, que Maciej Ceglowski proferiu em 14/02/2014, na Webstock, em Wellington, Nova Zelândia.

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