10 novembro, 2017

Gaveta de cartas

Carlos Pinto (Pernambuco). O seu conto não pode ser publicado por fugir aos moldes de nossa revista; é excessivamente picaresco.
T. Rocha (Porto Alegre). Aí vai uma amostra de seus versos:
"Uma flor quando no pé
Tem um valor duplicado
Colhida perde o seu garbo
O seu olor delicado
Portanto, filha, do galho
Não queiras tirar a flor
Que perdes com seu perfume
Doces carinhos de amor."
Estude, Sr. Rocha, leia os versos do Sr. Victruvio e outros notáveis poetas, que um dia poderá com eles ombrear.
Três Pontinhos (Niterói). Tenha paciência, mas os seus artigos foram para as cestas dos papéis sujos, por impublicáveis.
Carlos Taveira (Fortaleza). Para o satisfazer aí vão alguns versos seus:
"Somos dois anjos na vida
Dois arcanjos a voar
Um à procura da sorte
Outro das garras da morte
Sempre a fugir, a escapar..."
Está satisfeito? Pois lamba as unhas
Mauro C. (São Paulo). Nós não costumamos pegar no bico da chaleira. Faça o senhor seu elogio pessoalmente e não queira servir-se da gente para semelhantes coisas.
Sr. Magalhães (Bahia). Já passou o tempo da escola condoreira; seu
"O monge que habita os Andes
Com as barbas da cor do Céu"
é inteiramente incompreensível para a moderna geração literária.
Oscar Costa (Rio). É melhor o senhor não publicar livro algum.
J. C. de Moraes Rego (?). Seu madrigal foi para o lixo.
Anfrysio Correia (Campinas). Poucos versos costumamos publicar; nunca publicaremos, porém, como estes:
"A vida é uma hirsutação etérea
Que n'alvorada a pálida criança
Embala em sonhos a rudeza aérea
E mal aponta a tímida esperança
Desata em flocos d'amplidão funérea
A loira, fosca, esparramada trança!"
Sr. Anfrysio, um conselho: deixe a poesia e plante batatas.
Glauco (Rio). O seu soneto está muito bom. Mas, para que seja publicado, é necessário que o senhor compareça à nossa redação para deixar o nome, ainda que o soneto seja publicado com pseudônimo.
Revista Careta, 3 de abril de 1909 - edição 44
(transcritas com atualização ortográfica)

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