Ninguém que escreva um blogue tem a ilusão de que o leitor (chamado agora de usuário, pois internet não se lê, se usa) chegue até a última linha de uma página. Eu, idem. De fato, é possível que nesta altura do texto muitos já o tenham abandonado ou estejam a ponto de fazê-lo. A maioria só deslocará o cursor até a metade desta postagem.
Segundo os cálculos da Chartbeat, uma companhia que se dedica a observar o comportamento dos internautas em tempo real, para cada 161 pessoas que acessam uma página, cerca de 60 a abandona sem ter lido uma linha do primeiro parágrafo. No segundo parágrafo, 100 permanecerão, mas destes 5 não chegarão ao terceiro. E muitos dos que o façam deixarão de ler para ir tuitar um artigo que não sabem como termina. No quarto parágrafo, alguns dos que resistam irão à sessão de comentários para se queixar de que o autor não abordou um assunto que está no quinto parágrafo por que ele não teve paciência de chegar lá.
Tudo isto que era uma intuição, fruto, entre outras coisas, de meu próprio comportamento, confirma-se com as teorias de Jakob Nielsen, um especialista em utilização da web, que afirma que o usuário é egoísta (selfish), preguiçoso (lazy) e impiedoso (ruthless). Se não encontra o que busca logo o larga. Anda, há outras coisas mais interessantes na internet. É a lei da selva. Não há segundas oportunidades. O processo não dura mais do que dois minutos.
Os estudos de eye-tracking demonstram que os leitores têm a perigosa tendência de passar por cima de grandes blocos de texto. Josh Schwartz, na revista Slate, fala no artigo You won't finish this article (Você não terminará este artigo), e eu o apoio na pior das previsões. A saber: "As pessoas estão encontrando cada vez mais dificuldade em se concentrar, e se mais palavras você escreve vai perder leitores a um ritmo mais rápido." Os únicos itens que valem a pena ver de cima para baixo são aqueles em que há fotos e vídeos.
Karelia Vásquez, Tuitear sin leer: Nuevo deporte olímpico, El País
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